
e doutor pela USP, professor
universitário, Magister ad
Honorem da Universidade
de Bolonha, e Professor
Visitante das Universidades
de Bonn, Munique, Colônia e Berlim
(Alemanha). Professor Convidado da
Universidade de Paris V (Sorbonne
Cartola, o grande sambista e excepcional letrista, um dos ícones da escola de samba carioca Mangueira, escreveu esses versos para a sua filha quando esta lhe comunicou sua decisão de sair de casa e batalhar pela sua vida:
“Preste atenção, querida, o mundo é um moinho, vai triturar seus sonhos, vai reduzir as ilusões a pó.”
Evidentemente, esses versos carregados de filosofia, preocupações e tristeza de um pai traziam em seu íntimo um alerta contra os assustadores perigos, mas também a angustiante ânsia de “engaiolar” a filha querida, até mesmo para protegê-la.
Tal fato nos leva, a princípio, a pensar que o amor é liberdade, que as pessoas devem permanecer em seu ninho até quando possam e desejem voar. Entretanto, é importante que, justamente neste 8 de março, dia consagrado à MULHER, reflitamos sobre quantas são vistas como objetos de posse, aprisionadas, muitas vezes, em gaiolas de certeza, sem a oportunidade vital de encontrar outro ninho.
A bem da verdade, muitas vezes nós, seres humanos, nos escondemos nas gaiolas da covardia e nos entregamos a uma vida vazia, sem tempero e sem graça.
Há muito tempo presenciamos a pugna corajosa das mulheres, que nos dizem que todos precisam viver sem fascismo, essa mancha social que estabelece relações cretinas, abusivas e dominadoras.
Relembro o inesquecível Raul Seixas quando canta:
“Como podes ficar presa que nem santa no altar? Amor só dura em liberdade.”
Possivelmente, ao compor essa bela música, o poeta carregava consigo uma enorme carga de sofrimento, e mais ainda: a dor de quem objetiva prender a vida do semelhante.
Nós necessitamos de um mundo em que as mulheres possam voar livremente, sem sentir a vertigem das alturas que trazem insegurança. Precisamos garantir que não sejam simples Penélopes – sempre esperando –, anulando-se em suas gaiolas, sem ceder um milímetro sequer aos fascistas do machismo condenável, carregado de tiranias, que martiriza a vida dessas heroínas que são mães, trabalhadoras e profissionais que vislumbram um futuro mais promissor para suas famílias.
Pensemos no que nos fala o psicanalista Michel Foucault:
“O inimigo maior do nosso processo existencial é o fascismo que está em todos nós, que martela os nossos espíritos, nossas vidas e nos faz amar o PODER que domina, explora e faz sofrer!”
Que as mulheres do nosso tempo sejam altivas e corajosas para enfrentar, repito, esse fascismo abominável, que arrasta milhões de seres humanos para as valas do sofrimento e para o deserto da não realização!
Que surjam novas Fridas Khalo, Simones de Beauvoir, Eunices e Clarices, pelo bem de todos nós, para que nos libertem da indiferença, da ignorância, do machismo, da desesperança, e nos tragam a candeia da fé em dias mais promissores!
Que assim seja!