Parece que esta cena que vou narrar transcorreu ontem. Uma mãe aflita, com uma criança no colo apresentando convulsões, gritava por socorro em frente ao Grupo Escolar Padre Joaquim de Menezes, lá em Limoeiro do Norte, no sertão do Ceará. De imediato, chegaram correndo para ajudar várias professoras, entre elas uma muito ativa e resoluta, que pegou a criança no colo e pediu que chamassem um médico (no caso, o Doutor Limaverde, que estava ministrando aula de francês na Escola Normal) e passou a confortar aquela senhora, pedindo que tivesse fé que a criança, por misericórdia de Deus, não iria morrer.
Quem era aquele pequeno ser? Eu! Quem era a mãe? Dona Anilda de Castro Moura. Quem era a professora? Dona Olívia Lisete de Freitas Maia, casada com o maior cronista da história de Limoeiro: o jornalista Meton Maia e Silva, de saudosa memória. Ali, há mais de sete décadas, começou uma linda história de amor. A professora Olívia jamais esqueceu o seu futuro aluno, presenteando-o com o amor que só as almas sublimes possuem.
Por isso, louvo sempre o professor que acompanha o progresso do aluno promissor, também é seu o sucesso! Era a minha fada-madrinha, que visitei pela última vez, em agosto deste ano de 2024, centenária, lúcida, simpática e carinhosa! Ela e seu Meton legaram filhos maravilhosos à pátria brasileira: José Berckmans (Dedé), Glória, Maria José (Mazé) e Socorro. Todos cidadãos de linda carreira, honestos e, como seus pais, antenados com o bem.
Dona Olívia se encantou agora, em dezembro. Aliás, como dizia Santo Agostinho, não morreu, apenas passou para o outro lado da vida. Dona Olívia sempre foi muito atuante no cenário cultural e educacional da nossa “Princesa do Jaguaribe”. Graduada pela Escola Normal Rural de Limoeiro do Norte, dedicou-se, de corpo e alma, ao magistério, semeando o saber nas cabeças das nossas crianças.
Extremamente solidária, onde se fizesse necessário lá estava ela presente para conceder afeto e aliviar dores. Praticando a caridade, o que me faz evocar esta bela trova da grande trovadora potiguar Auta de Souza, um meteoro que passou pelo nosso mundo literário:
“Caridade, onde estiveres,
Lenindo as dores de alguém,
Onde sirvas, onde fores,
Jesus estará também!”
Isso mesmo! Ela era assim: pronta para servir. “Uma máquina rápida, apressada para a prática do bem,” como bem a definiu para mim, numa conversa despretensiosa, o seu genro Dr. Ranalfo Freitas Maia, competente e dedicado médico, meu amigo-irmão desde a adolescência, colega do velho Colégio Diocesano Padre Anchieta, da Turma de Humanistas de 1965.
Dona Olívia…
“Fizeste o bem que perdura,
No aconchego dos carinhos…
E, eu sinto, Mestra, a ternura
De suas mãos sobre as minhas!”
Partiu! Foi para o infinito virar constelação! Minha Mestra, minha fada-madrinha…
Tua falta lamentando,
Ah, quanto sonho desfeito!
Mesmo assim vou carregando
Um mito morto em meu peito!
Saudades infindas, Dona Olívia! Saudades!