Minha cumadre Tereza,
Recebi sua cartinha,
Perguntando das belezas,
Que esta cidade tinha.
Ocê pregunta de Pinda,
A respondo pra contar,
As coisas não são mais lindas,
Como no tempo do passado.
Nas ruas, árvores bonitas,
Com sombra de aproveitar.
Tocaro machado nas dita,
Sem pôr outras no lugar.
O bosque perto do rio,
Tão bonito que ele era,
Cumadre, até dá arrepio,
Tudo ele virou tapera!
Rua calçada, bem limpada,
Dr. Caio arrumou tudo novo.
Bonito jardim, água tratada,
Que o prefeito cobra caro do povo.
O prédio dos correios,
Ocê viu, tava fazendo.
Passou sete anos e meio,
Já acabou… apodrecendo.
Casa pra se morar,
Não se pode com aluguel.
Só se barraca armar,
Quem aqui ficar quer ser cruel.
As roupas, Nossa Senhora!
Custava dois, agora oito.
A tanga já não demora!
Até pão virou biscoito.
Os peixes lá do Paraíba,
Já não se pode comer.
Os preços sempre pra riba,
Pode se comprar, cadê?!
Se vou comprar na praça,
Já querendo dar bofetão,
Os pessoá diz: é cachaça.
Homem não! Sossega leão!
Pois escute mais não caia,
Nem pense que isto é farsa.
As muié já não querem saia,
Pra usar como homem, calça.
Algumas quase descarça,
Isso ainda não inquieta.
Porém, não usa tar calça,
Quando anda de bicicleta.
É um tal de penteado,
Dizendo “moda antiga”.
Cabelo tudo arrepiado,
Pra trás, lado, pra riba.
Arranca a sobrancelha,
Parecendo muié leprosa.
Cara, boca, unha vermelha,
E nos cabelos, tinta cheirosa.
Os moços então é vergonha,
Do jeito que andam agora,
Mais parece ave cegonha,
Camisa fralda pra fora.
Nos bailes, já não se dança,
Se arrasta daqui pra lá.
Pessoá de espia não cansa,
A “mamãe eu quero mamá”.
Todas as danças são iguais,
Eu até fico que cismo,
Que aquilo devia chamar,
A dança do reumatismo.
Tenho saudade do meu sertão,
Quando escuto passarinho cantar…
Comadre, topo praí no alazão,
Assim que a Semana Santa passar.
Abraço cumadre saudosa,
Se o que conto não é bom,
Perdoe esta carta prosa,
Do veio compadre!
Bastião…
(Na edição de hoje uma divertida crítica sobre a cidade e os costumes das pessoas no final dos anos 50. A publicação é da edição do jornal Tribuna do Norte de 31/3/1957 e o autor se identifica assim mesmo: Bastião…)