Primeiro, uma saudade recente: Ziraldo, que acabou de nos deixar. Reencontro-o num artigo do professor Gustavo Bernardo (UERJ): “Ziraldo costuma repetir que ler é melhor do que estudar. Como professor, concordo com ele”. Pena, agora o autor terá de dizer: “Ziraldo costumava repetir…”. Aliás, essa sentença – formulada com o verbo no pretérito imperfeito – esteve estampada em diversas matérias na semana passada. Imperfeito mesmo, o adeus. Perfeita, com certeza, a observação tantas vezes reiterada por Ziraldo.
Em texto publicado no Jornal do Brasil, nos idos de 2003, nosso cartunista e escritor renovava seu apelo por um trabalho voltado para o ensino e a prática da leitura e da escrita na educação básica do país: “Uma criança de 10 anos que lê como quem respira, que gosta de ler, que lê como quem está usando mais um, além dos seus cinco sentidos, estará preparada para receber toda a informação de que vai necessitar para enfrentar a vida”. O título do texto? “Ler é mais importante do que estudar.”
Sobre isso, especificamente, Gustavo Bernardo explicita: “Estudar muito não leva necessariamente ao hábito da leitura, e pior, não leva necessariamente a bons resultados nas provas e nos concursos. Em contrapartida, o hábito da leitura ajuda muito tanto a estudar quanto a ter bom desempenho nos testes de avaliação, justo porque grande parte desse desempenho depende de saber ler os textos e os enunciados das questões”.
Como sempre, estamos discutindo os desafios da escrita, muitos deles desanuviados por uma prática leitora constante. Recordar Ziraldo levou-me ao ilustre professor da UERJ e me despertou o desejo de destacar algumas iniciativas de estímulo à leitura implementadas em nossa Pindamonhangaba, todas à disposição do grande público.
Semana passada, foi inaugurada uma nova biblioteca municipal, no bairro do Castolira – isso é maravilhoso! Na biblioteca do centro, a belíssima “Rômulo Campos D’Arace”, existe o “Clube de Leitura”, que reúne leitores em torno de grandes obras da literatura universal, como “O alienista” e “O Evangelho segundo Jesus Cristo” – o romance de Saramago é a atual leitura do grupo, que se encontra sempre na terceira quinta-feira do mês, às 18h30).
Nossa Academia Pindamonhangabense de Letras (APL) também faz a sua parte. Na segunda quinta-feira de cada mês, acontece na biblioteca do centro o “Sarau Etc. e tal”, reunindo apresentações musicais e artísticas, além, é claro, de muita leitura de prosa e poesia. Além disso, as reuniões solenes da APL, realizadas na última sexta-feira do mês, no Palacete 10 de Julho, são palco de muita arte e cultura!
Quer mais? A APL conta com dois grupos de estudos literários: às segundas, a partir das 15h, o “Grupo de Estudo Balthazar de Godoy Moreira”, que acaba de nascer com a missão de revisitar as crônicas publicadas pelo autor nesta Tribuna há mais de 60 anos, além de compartilhar o vigor e a beleza da poesia daquele que é conhecido como “Príncipe dos Poetas Pindenses”; às terças, a partir das 14h, o “Grupo de Estudos Guimarães Rosa”, que desbrava, atualmente, o monumental romance “Grande sertão: veredas”, obra-prima da nossa literatura! Os dois grupos se reúnem no Palacete 10 de Julho, na sede da Academia.
Enfim, são projetos necessários e fecundos, que merecem nosso prestígio. Aliás, costumo dizer que qualquer movimento a favor da leitura precisa mesmo ser aplaudido, apoiado e expandido. Afinal, como bem definiu o professor Ernani Terra (PUC-SP), “a leitura é prática social de construção de sentidos” entre autores e leitores. Por tudo isso, aplaudamos e multipliquemos iniciativas de estímulo à leitura e à escrita – por uma vida com mais sentido, mais horizontes, mais… vida!