Dores no corpo, exames laboratoriais normais, desânimo, dores no peito, dificuldade para dormir e quando dorme; não descansa (ou acorda no meio da noite). Além disso, passa os dias ansioso, estressado, apresenta crises de choro e uma certa e abrupta sensação de vazio e desespero internos. João já não aguentava mais. O mundo todo perdera o sentido para ele. Sua vida tornara-se um tormento.
Foi durante uma crise de falta de ar e coração “saindo pela boca” que ele decidiu ir, às pressas, para o hospital. Envergonhado e sentindo-se um lixo, chegou no P.S. “A sensação era de morte”; João conta isso com lágrimas nos olhos. Ele já nem sabe dizer o que foi mais marcante: se foi a sensação de morte ou o encontro com aquele médico. Diz ele que o plantonista tinha “brilho no olhar” e “um jeito diferente, ele me acalmou dizendo que no peito eu carregava um coração saudável, e que eu tinha mesmo que parar de carregar tanto sofrimento ali”.
Como ele chegou no hospital, em crise, logo foi atendido. E para maior precisão na conduta médica e prescrição medicamentosa, foram colhidas todas as informações pertinentes e realizados os procedimentos “padrão”: pressão arterial averiguada, eletrocardiograma e exames de sangue. Enquanto João aguardava os exames na sala de observação, já medicado e em repouso, o Dr. foi lhe ver: “Já fez terapia, João?”
“Não? E por acaso, você já ouviu falar que a meditação ajuda a diminuir a ansiedade, as sensações de dor e os sintomas da depressão?”
João: “É mesmo, doutor?”
“Sim, João! A meditação tem ajudado muitos pacientes como você, porque é uma abordagem neuroplástica! O cérebro se transforma! Você aprende a respirar e a acalmar a mente com práticas respiratórias. Você devia experimentar! Vai entender que corpo e mente interagem o tempo todo. Inclusive, o seu corpo está repleto de neurônios!”
João: – “neurônios no corpo, dr?!”
“Sim, João só no seu intestino são 100 milhões de neurônios! Aliás, como anda a sua alimentação?”
Não sei por quanto tempo mais eles ficaram ali conversando, mas as recomendações médicas foram para que João buscasse um profissional da área da saúde mental para realizar tratamento e acompanhamento terapêutico.
Quantos João nós conhecemos? E quantos doutores com esse tipo de conduta e de saber? E essa coluna não era nem sobre isso. Mas, tenho sido procurada por muitos “Joãos” e “Marias”. E me dá um alívio quando eles chegam no meu consultório. Eu sei que me utilizo de técnicas científicas e, potencialmente, transformadoras. Aliás, eu as experimento no meu corpo e na minha vida! Mas, se a minha abordagem, desde a minha fala, olhar, postura não for acolhedora e amorosa, as técnicas não passariam de técnicas. Vínculo e confiança são fundamentais no processo. Técnicas específicas e muito estudo, também. Sou grata por cada um que chega.
Se o sofrimento do outro não te toca, não lide com pessoas. Que possamos cuidar como quem ama.