Por que o teatro?
Porque têm pessoas que acham que podem mudar a realidade do momento utilizando a arte como ferramenta, e o teatro é a arte que mais consegue agregar outras artes à sua criação. A arte se conecta com a alma, com as pessoas à sua volta; ela estabelece, de forma muito especial, uma troca de energia, de sensações, de sentimentos.
Uma obra artística pode tratar qualquer questão, da mais extraordinária até a mais desprezível. É por esta razão que os governos autoritários, historicamente, sempre perseguem os artistas e censuram as suas obras.
Como já foi dito na coluna anterior, Pinda sempre teve uma ligação íntima com o teatro. Esse momento do final do século XX e início do XXI foi um período muito fecundo da arte em Pinda. Hoje pretendo falar um pouco sobre o grupo Textandotexto, que foi de alta significância no movimento teatral da cidade porque retomou uma atividade que estava numa certa morosidade.
O grupo foi criado em maio de 1987 por jovens que objetivavam elaborar uma obra teatral com seriedade. O primeiro trabalho do grupo aconteceu na FAMUSC – Faculdade de Música Santa Cecília, sob a direção do professor Afonso Barone. Essa primeira montagem foi o espetáculo “A Perseguição ou o Longo Caminho que vai de Zero à Ene”, com os atores Edson Sansil e Wilson Maximiano, o iluminador Hamilton de Abreu e o músico Anísio Pedroso.
A intensa dedicação do grupo os levava a ensaiar após as 22h, horário que o diretor, o professor Afonso, terminava as aulas na FAMUSC e não tinha hora para acabar. Às vezes acontecia algum fato inusitado que, depois de passado, era até engraçado. Como aconteceu certa vez em que ensaiavam com uma entrega muito intensa na construção das personagens e das cenas, exacerbando o tom das vozes. Algum vizinho ou transeunte que passou em frente, ouvindo as falas exageradas, chamou a polícia. No auge da criação dramática dos atores, os policiais chegaram interrompendo a cena, que era digna de uma premiação em festival.
Quando a peça ficou pronta, foi apresentada na FAMUSC. O público que assistiu ao espetáculo já compreendeu que era um grupo altamente promissor.
Em 1988 foi criado o curso de Artes Cênicas na FAMUSC e, em 1989, as atividades do grupo foram retomadas, agora com os alunos da faculdade: Edson Sansil, Rose Seixas, Hamilton de Abreu, Carlos Guilherme, Edileia Salgado e Gilberto Forastieiro. Nesse ano montaram a peça “O Quebra Nozes”.
Em 1990, a nova montagem foi “A Jabuticaba Amarela”, que, além do grande sucesso alcançado na região e no interior de São Paulo, realizou uma excursão pela Argentina, nas cidades de San Javier, Reconquista e Romang, onde se apresentaram com o texto em espanhol, traduzido por Rolando Domec.
A consolidação definitiva do nome Textandotexto aconteceu com a montagem do espetáculo “Sganarello, o Corno Imaginário”, de Molière, adaptado por Luciana Felipe.
Com um elenco renovado, o espetáculo foi muito elogiado e premiado nos diversos festivais de teatro em que participou. Além do grande sucesso junto aos críticos, foi muito festejado diante de um público que sempre lotava os teatros para rir e aplaudir muito. Porém, o que registramos mais enfaticamente foi a significativa contribuição, a partir desse espetáculo, para o desenvolvimento do interesse e do hábito dos jovens e adultos pelo teatro que acontecia em Pinda.
Mas todo esse sucesso e a promessa de uma intensa realização cultural e artística em Pinda não foram suficientes para manter a atividade do grupo. Em razão da opção dos principais fundadores remanescentes terem resolvido tomar outros rumos em suas vidas, foi decidido descontinuar o Textandotexto.