Sempre que chegamos ao fim de um ano de trabalho, estudos, atividades de uma maneira geral, dizemos que é muito importante mostrar gratidão à Divindade e às pessoas. Traz-nos a sensação de recomeço e de início de possibilidades. Aqui, cabe uma pergunta: como os pensadores, os psicólogos a encaram ou a conceituam?
Sabemos que a Filosofia da Gratidão representa um olhar para a vida e para o mundo, na busca da consciência das benesses que chegamos a obter. Em termos de Filosofia, essa ideia de gratidão nos conduz a SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274), o pai do tomismo, considerado o maior dos Filósofos Medievais, para quem a alma humana é subsistente, imortal e única, a qual tende naturalmente para Deus. Escreveu mais de 60 obras, sendo a principal “Suma Teológica”. Na sua obra “Tratado sobre a Gratidão”, ele apresenta três níveis de gratidão: o nível superficial que se refere ao reconhecimento intelectual e consciência do benefício recebido, o nível do agradecimento que diz respeito em dar graças a alguém por aquilo que fez por nós e o nível mais profundo que nos leva à constituição de um vínculo e possível comprometimento com essa pessoa.
É muito importante observarmos que a abordagem de São Tomás de Aquino não fica restrita a uma perspectiva religiosa, mas nos conclama para estarmos atentos a esse terceiro nível da gratidão: dever de agradecer e constituir um vínculo com aqueles que nos concederam o bem. Aqui, apreciamos a importância da palavra “OBRIGADO” na sua plenitude, na representação da gratidão.
O Filósofo Suíço, JEAN JACQUES ROUSSEAU (1712-1778), nascido em Genebra, autor do “Contrato Social”, afirmou que “A gratidão é uma dádiva que deve ser paga, mas que ninguém tem o direito de esperar que seja”. Dessa maneira, compreende-se que não se deve esperar gratidão de ninguém, mas que, por dignidade, elevação espiritual, devemos praticá-la. Muitas vezes as pessoas podem considerar a gratidão como um tipo de fraqueza (tem gente assim!!!) ao reconhecer que necessitou de ajuda para conquistar algo significativo e de grande valia para a vida.
É bom se destacar que estudos na área da Neurociência apontam para a melhoria da saúde mental a partir da gratidão, visto que as pessoas apresentam maior ativação do córtex pré-frontal medial, área de cérebro comprometida sobretudo com o raciocínio social e controle do comportamento emocional.
JEAN PAUL SARTRE (1905-1980), um dos mais importantes Filósofos Franceses do século XX, defensor irrestrito da liberdade, para quem somos feitos de escolhas e autor de “O Ser e Nada”, afirmava: “Não é importante se me fizeram mal ou não, mas importa o que eu faça com o que fizeram de mim”, significando que não preciso ser grato pelos eventuais temporais que acontecem na minha existência, mas ser grato por minha capacidade de aprender a trabalhar com eles.
Aqui, relembro uma história. Certo dia, perguntaram ao grande psicanalista suíço Sigmund Freud (1856-1939) o que é o amor. Ele respondeu: “É a gratidão que sentimos em relação às fontes de gratidão. Ela nos atesta que algo vital foi recebido, que acolheram o nosso desamparo e cuidaram de nós, que nos alimentaram e nos disseram palavras cheias de carinho e de esperança, arrebatando-nos do terreno pantanoso da carência. A gratidão intensifica a experiência da infância que, de certa forma, está perdida na vida adulta. De onde ela surge? Possivelmente, de ter sido escutado, de ter ouvido palavras justas, de ter encontrado o lugar onde foi possível rir e chorar na companhia de alguém”.
Portanto, no nosso processo existencial, é salutar, digno, profundamente humano, mostrar sempre gratidão, sentimento que eleva e nos dignifica como seres humanos.