O poeta e ensaísta americano Ezra Pound postulou que “literatura é linguagem carregada de significado”. O escritor russo Vladimir Nabokov reconhecia que “a arte e o pensamento, o estilo e a substância” são inseparáveis nos textos literários. Sob seus respectivos prismas, ambos os autores reforçam a mesma ideia: a criação literária é resultado da combinação calculada e criteriosa de forma e conteúdo. Será que isso vale também para a redação do Enem e do vestibular?
Observadas as devidas exigências e finalidades, sim! Escrever uma dissertação eficaz consiste em harmonizar, cuidadosamente, forma e conteúdo, valendo-se para isso dos conhecimentos (já discutidos nesta coluna) sobre abordagens argumentativas possíveis, estrutura textual e domínio gramatical.
Para dissertar bem, o primeiro passo é aplicar um olhar crítico sobre o tema proposto, definindo as abordagens argumentativas possíveis, dentre as quais se destacam: a análise de causas e de consequências, a reflexão acerca da importância de conceitos ligados à temática e as relações que possam ser estabelecidas entre o tema e conteúdos diretamente envolvidos na problemática em questão.
Logo após isso, o texto deve ser planejado – e executado – de acordo com a estrutura do discurso dissertativo-argumentativo. Organizada em três partes (introdução, desenvolvimento e conclusão), a redação constitui-se das ações discursivas próprias do tipo textual argumentativo consagradas pelos exames vestibulares.
A introdução começa com a contextualização temática (um livro, um filme, um conceito, a citação de um autor etc. que se relacionem, de alguma forma, ao tema proposto); depois, vem o recorte temático, a problematização formulada pela proposta de redação; finalmente, a apresentação da tese (o ponto de vista a ser desenvolvido no texto) encerra o primeiro parágrafo, se possível anunciando os argumentos sobre os quais essa tese será sustentada.
Em seguida, os dois parágrafos de desenvolvimento são compostos por: tópico frasal (a ideia central do parágrafo, ou seja, o argumento a ser trabalhado); repertório sociocultural (a fundamentação do argumento); análise (a explicitação da relação entre o repertório e o argumento, ambos diretamente ligados à tese, obviamente); e o fechamento do raciocínio (sempre ligado ao tópico frasal e/ou à tese). É possível também trazer a análise antes do repertório – decisão que cabe ao autor da redação, a partir do projeto de texto que escolheu desenvolver.
Por fim, o quarto parágrafo da dissertação traz a conclusão. No caso do Enem e do Provão Paulista, é hora de apresentar o reforço da tese e a proposta de intervenção com os cinco elementos exigidos: agente, ação, modo, efeito e detalhamento. Além disso, é bom fechar o texto com um último comentário (evidentemente conclusivo), resgatando, se possível, a contextualização inicial. Em outras provas, também são necessários o reforço da tese e o último comentário; no lugar da intervenção, entra a síntese dos argumentos desenvolvidos.
Note como, nos três parágrafos anteriores, forma e conteúdo se encontram em harmoniosa organização: as ideias e informações foram formatadas em orações e parágrafos cuidadosamente elaborados conforme regras (não só discursivas, mas também gramaticais) que garantem a clareza e o decorrente entendimento do texto. Ajustar o que precisa ser dito sobre o tema a uma estrutura textual pré-definida é, justamente, combinar “estilo e substância” (ou vice-versa), executando com eficácia um projeto de texto crítico, consistente, articulado, autoral – e claramente inteligível. Em outras palavras, é imprescindível que forma e conteúdo estejam perfeitamente alinhados no seu discurso. É isso que você precisa fazer na sua prova de redação!