O supermercado estava abarrotado de pessoas. Havia me esquecido que era o quinto dia útil. Pensei em voltar noutro dia, mas como minha despensa estava deserta, tomei posse de um carrinho e o pilotei pelos corredores.
Há algum tempo venho reduzindo a lista de compras. Prevejo que em breve substituirei o carrinho pela cestinha, pois meu salário não acompanha os reajustes de preços.
Não cronometrei, mas creio que precisei de pouco mais de trinta minutos para colocar no carrinho as mercadorias que necessitava. Em seguida fui me enfileirar para pagá-las. Pacientemente, me posicionei atrás da senhorinha de cabelos brancos, com uma sombrinha pendurada no braço.
— Essa fila anda ou não anda!? — Berrou o homem que estava na frente dela.
Ela levou um susto.
O homem continuou berrando até chegar a sua vez de ser atendido. Com a rispidez de um troglodita, gritou:
— Seu atendimento é péssimo. Você é muito lerda.
A operadora ignorou as ofensas e começou a registrar os produtos.
— Estou falando com você! Será que além de molenga você é surda?
A senhorinha não se conteve. Ergueu a sombrinha e disparou:
— Deixe a menina em paz, seu… seu…
— Seu o quê? Melhor a senhora fechar a boca porque a conversa ainda não chegou ao asilo. E outra coisa: o que a senhora está fazendo nesta fila? O seu lugar é na fila preferencial. Vai pra lá, velha!
— Não sou obrigada. Entro na fila que eu quiser. Quero ver quem vai me tirar daqui.
Estava me posicionando para defender a velhinha quando o segurança de dois metros apareceu. Ao vê-lo, o mal-educado murchou, pagou as mercadorias e foi embora.
Enquanto a velhinha dispunha suas mercadorias na esteira do caixa, eu a abordei:
— De onde a senhora tira tanta coragem?
Ela puxou os óculos para a ponta do nariz e me perguntou:
— O senhor tem netos?
— Não, senhora. Ainda, não.
Ela apontou para a operadora e perguntou:
— Se essa moça fosse sua neta, o senhor a defenderia com unhas e dentes?
— Com certeza.
— Pois então… Foi o que eu fiz.
Maurício Cavalheiro ocupa a cadeira nº 30 da APL – Academia Pindamonhangabense de Letra