“A arte salva”. Não sei de quem é a frase, mas sei que, independente de qual arte, o pensamento nos conduz a refletir sobre isso. Me envolvi, de forma muito significativa, com o teatro. Ele é uma arte versátil, que mais se liga e se harmoniza com as demais atividades artísticas.
Foi por isso que, quando recebi o convite para escrever essa coluna, resolvi que falaria sobre esse tema, porém com um direcionamento à nossa cidade. Pindamonhangaba sempre teve, por tradição, um envolvimento muito próximo das artes cênicas. Grupos teatrais ativos e a luta por espaço de apresentação sempre estiveram presentes no nosso cotidiano.
Mas, antes, é preciso que se fale sobre um evento da maior significância para o teatro de Pinda: o FESTE. É o evento artístico-cultural mais longevo (é um dos 10 festivais de teatro mais antigos do país), revestido de uma importância que extrapola os limites da nossa cidade e da nossa região. É reconhecido em todo o país.
Quando, em 1974, o Prof. Diógenes Chiaradia Feliciano criou o Grupo Teatral São Francisco, ele queria incentivar seus jovens alunos a se interessarem pela arte do teatro. O Ginásio Industrial Estadual de Pindamonhangaba foi o berço dessa missão. Montou o grupo e realizou diversas apresentações no Salão Paroquial. Incentivados pelos bons resultados, no mesmo ano criou um festival de teatro, o FESTE, e o realizou na Ferroviária.
Mas nada é fácil. Logo dificuldades começaram a se destacar. Porém, a tenacidade do grupo e do seu diretor conquistaram a colaboração de alguns empresários, tornando possível as apresentações. Em 1975, já com um número de inscrições bem mais significativo, houve até um processo de seleção dos inscritos, e o festival aconteceu novamente no Salão Paroquial.
Em 1976, foi organizado no antigo Cine São José, que estava desativado e deveria se transformar em um ponto de comércio. Ali, Diógenes e os jovens do grupo arregaçaram as mangas, lavaram o salão, recolocaram as cadeiras no lugar, colocaram os refletores e realizaram o III FESTE.
A partir de 1977, passou a se realizar no Clube Literário e Recreativo, onde ficou até o ano 2000. De 2000 em diante, transferiu-se para o Teatro da COOTEPI, hoje Teatro Galpão.
Em 1980, por acordo, a organização e realização do FESTE foram assumidas pela Prefeitura Municipal, através do Departamento de Cultura. Assim, o FESTE tomou impulso e se tornou um acontecimento de concorrida participação por grupos teatrais de todo o Brasil.
Com uma programação diversificada e acessível para todas as idades, ele tem proporcionado momentos de reflexão e lazer, de muita troca e mobilização dos artistas. Tornou-se, entre os mais jovens, adultos e famílias, uma tradição de todo ano, consolidando-se como um dos principais eventos culturais da cidade. Além de ser o principal fomentador de interesse e de público, tem se constituído numa fonte muito especial de aprendizado aos praticantes e interessados pelo teatro, seja através das oficinas culturais, dos debates realizados após as apresentações dos espetáculos, com a participação e coordenação de um júri composto por profissionais das artes cênicas, reconhecidos e competentes, mas, principalmente, pela qualidade dos espetáculos encenados.
Pela falta de recursos, os anos de 1982, 1986, 1999, 2010 e 2016 não tiveram a realização do festival. Ainda assim, já realizou a sua 46ª edição. Reconhecendo a sua importância, o Conselho Municipal de Cultura, acatado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Histórico, o levou a se tornar o primeiro registro de Bem Cultural de Natureza Imaterial da cidade. Publicado no Diário Oficial em 08/02/2023, retroativo a 19/12/2022.
Enfim, o FESTE é, sem dúvida, um evento que movimenta de forma muito significativa a cultura da cidade.