Há momentos na vida em que, muitas vezes, o medo bate às portas, impulsionando-nos a dar uma nova oportunidade a nós mesmos, enfrentarmos desafios desconhecidos com altivez. É uma hora importante em que percebemos o valor, no nosso processo existencial, de um fenômeno denominado RECOMEÇO. Passamos a trilhar veredas em direção a novos enfoques, num processo de aprendizagem contínua, e encaramos a oportunidade de assumir oportunidades, de realizar.
O recomeço é como se estivéssemos no passado e no futuro simultaneamente, visto que é carregado de evocações fortes e de esperanças. É um fato interessante que traz no seu bojo expectativas e dúvidas e, sobretudo, reflexões de ações praticadas e que serão praticadas com novo sentido.
Onde será que principia o recomeço? Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, nos afirma que ele tem origem no “incômodo que perturba a inércia e nos impulsiona à transformação”. E é nesse autêntico confronto com a insatisfação que descobrimos o encanto da motivação para a procura pelo novo, provando-nos que a nossa caminhada nesse mundo não condiz com a estagnação e sim, com o constante, sofrido e crescente aprendizado.
E tem mais: o eterno retorno é uma das leis do Universo, pois os ciclos se repetem, tudo se encontra nesse caldeirão em ebulição, alertando-nos para que nos preocupemos com a qualidade do novo para que ele seja o melhor possível. Representa um convite para a resiliência, sendo um lugar de chegada, quando, muitas vezes, palmilhamos trilhas escuras e perigosas da desesperança e não conseguimos enxergar a luz no fim do túnel.
Aqui, contemplamos o valor da Filosofia, sempre essencial em todos os momentos do viver, uma vez que ela afirma sua presença, principalmente nesse momento de crise do pensamento no século atual, conclamando-nos à fundamentação de ideias e dos discursos. Percebemos então, que o processo filosófico, de uma maneira geral, nos conduz a pensar na existência da energia de um mundo recorrente que prossegue acontecendo infinitamente na dualidade tempo-espaço. Reafirma que o recomeço é parte essencial, integrante da vida.
Recomeçar é ter a consciência de se reinventar, seguir em frente com mais força, o que condiz com a célebre afirmação de Heráclito de Éfeso (540 A.C. – 470 A.C.): “A única constante que existe é a mudança”. E, não é função da Filosofia nos alertar para instaurarmos uma outra relação diferente daquela que estava constituída e procurar uma nova maneira de ser?
Se nos detivermos no estudo da Filosofia das Religiões, em especial, no estudo cuidadoso da Bíblia, apreciamos referências a esse palpitante assunto, precisamente em Lucas (24, 13-35), quando ressalta o fato de que ele é uma dádiva que o Cristo nos oferece com seu amor misericordioso, vindo ao nosso encontro, encorajando-nos nas pugnas, nos caminhos. Pois, não foi assim com os discípulos a regressarem a Emaús, onde houve o encontro do Filho de Deus ressuscitado com dois deles? Emaús simboliza a possibilidade de um novo recomeço, lugar de reencontro e de ressignificação!
Que tenhamos um venturoso Ano Novo em que aconteçam recomeços que significam investir em novos objetivos, aceitar mudanças, deixando de lado crenças limitadas, renovando novos compromissos com a vida, enxergando com outro olhar e sonhando com outros sonhos. Seja a nova criatura preconizada pelo apóstolo Paulo (Coríntios, 2: 5-17): “E assim se alguém está em Cristo é uma nova criatura. As coisas antigas já passaram, e eis que se fizeram novas”.
Felicidades para todos!