A esposa do vizinho do meu vizinho precisou se deslocar para outro estado, a fim de cuidar da mãe que fora submetida à cirurgia cardíaca. O vizinho do meu vizinho sugeriu que a convalescença da sogra ocorresse na casa dele. A velha não quis. Disse que só sairia morta da casa dela. Então, o vizinho de meu vizinho sugeriu que a outra filha cuidasse da mãe – a cunhada era solteira. A velha disse que não queria, pois essa filha era destrambelhada. Para piorar, como a esposa do vizinho de meu vizinho era extremamente ciumenta, ficou decidido que a cunhadinha ficaria de olho nele. Ele tentou refutar, mas não adiantou.
Assim que a esposa do vizinho do meu vizinho viajou, a cunhada apareceu de mala e cuia. Ele torceu o nariz, mas, sabe-se lá como, manteve a cordialidade. A cunhada se instalou no quarto dele, transferindo-o para o de hóspede. Ele ligou para a esposa, reclamando. Ela ponderou: “Deixa, vai. É só por uns dias”. A partir de então o caos se instalou: calcinhas jogadas no chão, louças amontoadas na pia, monstrinhos flutuando no vaso sanitário, e o pior: a cunhada deitava a boca em todos os alimentos, principalmente as guloseimas.
Muitas vezes ele chegou do trabalho, cansado, faminto e, ao procurar pelo que comer, não encontrava nada. O bolo de chocolate, por exemplo, ela teve a pachorra de comer e deixar a embalagem vazia dentro da geladeira. Cansado de jejuns forçados, teve uma ideia.
Certo dia, assim que voltou do trabalho, tomou banho, comeu o resto do resto do resto do almoço e foi até o carro. Voltou com um delicioso pudim, embaladinho. Disse à cunhada: — Trouxe para nós. Vou guardá-lo na geladeira. Mas é para comermos amanhã, viu? Só amanhã. Combinado? A cunhada salivou até com os olhos. — Você é quem manda, cunhado. Depois disso ele foi se deitar. Ela também. Minutos depois, a porta do quarto dele foi empurrada, ficando semiaberta. Era ela verificando se ele já havia dormido. Ele fingiu que estava. Em seguida, ela foi até a geladeira e se apoderou do pudim.
Do quarto, ele ouvia os ruídos da comilança e sorria. Meia hora depois, a correria aconteceu. Ele se levantou, viu a cunhada entrar no banheiro, e ouviu a sequência do foguetório. Em poucos segundos, o ar se catingou. Aquela erupção intestinal, que durou alguns dias, ensinou a cunhada a controlar a boca.
No mês seguinte, quando foi buscar a esposa, ela encontrou o vidrinho vazio de laxante dentro do porta-luvas. — Minha irmã disse que comeu algo que não fez bem ao intestino dela. Você sabe de alguma coisa?