
O podcast Fala Mulher — uma das ações do Clube de Leitura idealizado também pelo jornal Tribuna do Norte — é apresentado por Carmem Pamplin (bibliotecária da Biblioteca Rômulo Campos D’Arace) e Angelita Claudino (mediadora dos encontros de leitura) e trouxe a produtora audiovisual Cris Vale, que compartilhou sua trajetória de reinvenção profissional e o olhar sensível com que retrata mulheres e minorias em suas produções.
Formada em Relações Públicas, Cris conta que sempre viveu cercada pelo ambiente da educação. “Vim de uma família de professores e a vida toda trabalhei com administrativo, fui concursada e tudo”, relembrou. A virada veio há cinco anos, quando decidiu seguir o caminho do audiovisual. “Fiz uma transição de carreira e me encontrei profissionalmente, o que mostra muito que a gente, enquanto mulher, pode fazer”, afirmou.
Desde então, ela atua como produtora de curtas-metragens na região e já conquistou resultados expressivos em produções independentes. “Aqui tem produções que alcançaram metas quase inatingíveis para a gente, como filmes exibidos na TV Aparecida e na Band TV”, contou com orgulho. Seu trabalho é guiado por um propósito: dar visibilidade às histórias que merecem ser contadas. “Sigo aí fazendo esse trabalho que é de contar histórias de minorias e de mulheres”, completou.
Entre os destaques da carreira está o curta Barquinho (2024), realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo. “Ele conta uma história muito singular de todos nós, e quem assiste consegue se identificar”, explicou. O filme foi o primeiro curta-metragem da região a ser licenciado pela TV Aparecida, sendo exibido em 2025. No segundo semestre, outro trabalho da produtora deve estrear na mesma emissora, abordando a velhice e a valorização das pessoas idosas.
A parceria com o coletivo Flor Filmes também foi um divisor de águas. “Foi com eles que eu comecei no cinema. Eu nem imaginava fazer audiovisual”, contou. Junto da diretora Karola Lobo, Cris produziu o curta Duda, sobre depressão pós-parto. O filme ganhou projeção internacional, participando de mais de cinquenta festivais e conquistando mais de trinta prêmios, incluindo o Festival de Cinema de Língua Portuguesa em Portugal, o maior do mundo nesse segmento.
Outra produção recente, Quem Escuta o Professor?, nasceu de uma reflexão sobre os desafios enfrentados por educadores durante e após a pandemia. “A gente pensou no olhar que se tem hoje sobre a educação. Muitos professores desenvolveram síndromes, pediram afastamento, porque davam aula de casa enquanto cuidavam de filhos e de todo o universo familiar”, explicou. O filme foi gravado integralmente no Teatro Galpão e contou com professores reais interpretando as próprias histórias.
Encerrando a entrevista, Cris Vale refletiu sobre o significado de ser mulher e ocupar espaços criativos. “Ser mulher é um ato político. Desde que a gente nasce, é cobrada por alguma coisa. A sociedade tem expectativas sobre o que devemos ser ou fazer, e isso nunca acaba”, afirmou. “Mas encontrar o nosso lugar é um processo que não tem idade”.