Se não fosse calvo, bigodudo e estrábico, seria sósia do Fábio Junior. O amigo dele, que havia torrado tudo o que tinha e o que não tinha para transformar um velho imóvel num restaurante, o convidou para fazer o show da inauguração.
— Show? Eu não sou artista.
— Ainda não, mas será Fábio, o Júnior. Nos cartazes o “o” será bem pequenininho, uma coisiquinha de nada, quase imperceptível.
— Meu nome não é Fábio.
— Mas é Júnior. Meio Fábio… Isso é só um detalhezinho.
— Por que escolheu o Fábio Júnior? Não poderia ser outro?
— Foi exigência da minha esposa e da mãe dela. Elas são fanzocas dele. E como você se parece muito com ele…
— Eu? Eu não me pareço nada com ele.
O amigo pegou um espelho.
— Veja. É só rapar o bigode, colocar uma peruca e usar óculos escuros. Fica igualzinho.
— Você tá maluco? Ninguém vai acreditar.
— Não se preocupe. Planejei tudinho. A luz do palco será penumbrosa. Terá gelo seco e muita fumaça. E você nem vai precisar cantar. Só dublar.
— Estou fora. Arrume outro.
— Que pena! Sabe aquela dívida sua? Eu ia perdoar. Mas já que não quer colaborar, terei que acionar o meu advogado.
Ele pensou um pouco.
— Onde consigo a peruca?
No dia da inauguração, o restaurante estava lotado. A mulher e a sogra do proprietário, sentadas próximas ao palco. A velha sofria com a catarata, e a ingenuidade da esposa era incapaz de desvendar a farsa.
Meia hora depois, a fumaça e gelo seco tomaram conta do palco. E o proprietário anunciou:
— Agora, com vocês… o cantor do amor. Palmas para ele.
E o Júnior, que não era Fábio, estreou.
“Por você eu tenho feito e faço tudo que puder pra que a vida seja mais alegre do que era antes…”
A mulherada se incendiou. Eufóricas, ameaçaram invadir o palco. Receando que a fraude fosse descoberta, o empresário assumiu o microfone: “Se vocês não se acalmarem, não haverá mais show”. E desligou a energia elétrica.
Minutos depois, a esposa se aproximou dele e disse:
— Ele está seguro. Mamãe e eu o levamos ao escritório. Ela está lá com ele, com a porta trancada.
O empresário não sabia o que fazer. Precisava religar a energia elétrica. E foi isso que fez. No instante seguinte, a sogra apareceu gritando e em prantos:
— Ele é careca! Ele é careca!