
ocupa a cadeira nº 30
da APL – Academia
Pindamonhangabense
de Letra
Olá. Tudo bem com você?
Posso lhe pedir um favor? Quando passar por mim, desacelere, pare um pouco para conversar comigo, para me contar sobre a sua vida. Falaremos no idioma ocular, o idioma da sinceridade.
Às vezes você passa com o olhar aflito. Às vezes, taciturno. Às vezes, sisudo. Não me recordo da última vez que passou por mim com uma expressão suave, feliz.
Não sei se percebeu que seus cabelos branquearam muito rápido nos últimos meses; e que rugas começaram a povoar o seu rosto. Não sei a sua idade, mas sei que as ações do tempo em seu corpo são precoces.
Talvez você diga que eu não tenho nada a ver com a sua vida; que não pago as suas contas, e coisas desse tipo. Eu não ligo. O que importa é que me importo com você, e estou preocupado com sua deterioração. Mas, pior que o aspecto físico, é o seu semblante carregado de negativismo.
Você sabe que a vida é muito breve, não sabe? Se sabe, não parece. Percebo que você perde muito tempo com futilidades: quer enriquecer a qualquer custo, quer morar num palácio, quer um automóvel de milhões. Quer tudo e mais um pouco. Cuidado! A saúde é um bem precioso.
Espero que da próxima vez você pare para conversar comigo. Eu sou seu amigo. Amigo fiel. Pode me contar o seu maior segredo, a sua maior frustração, seus medos, suas ansiedades. Você vai se sentir leve. Eu estou e estarei com você para o que der e vier.
Não hesite em me convidar para um passeio pelo belo parque da cidade. Eu aceitarei e caminharei orgulhoso ao seu lado. Poderemos correr pelo campo, brincar com bola, brincar de pega-pega. Eu era bom nisso.
O tempo passou e estou velhinho. Mal consigo suster as minhas pernas. A vida tem sido difícil para mim. Faz um tempão que moro na rua. Sofro com o frio. Sofro com o calor. Muita gente que passa por mim me agride, me maltrata. Faz dias que não como. Por isso, peço que quando passar por mim, pare um pouco. Eu preciso de você. Sua palavra vai me acalentar. Talvez seja nossa última oportunidade. A vida é curta, para mim e para você.
Se puder, me traga um pedaço de pão. Água também, por favor. Mas se quiser me deixar feliz, me traga um pouco de ração e um montão de carinho.