O caso passou-se no Rio de Janeiro já há vários anos. Eu e o meu companheiro de pensão, Dr. Cordolino Carrapatoso, que acabara de se formar em medicina, fomos convidados por pessoas amigas, para assistirmos a uma sessão espírita do então muito conhecido e distinto médium senhor Filastô Encarnação.
Às oito horas da noite, entramos todos em um vasto salão já repleto de adeptos daquela doutrina. Após alguns trabalhos sem importância usuais em sessões espíritas, o Dr. Cordolino adiantou-se até a mesa e pediu ao presidente por obséquio procedesse a invocação do espírito de seu pai o senhor Eustáquio Carrapatoso.
Ora, eu sabendo que o pai do senhor Cordolino ainda era vivo, percebi logo que se tratava de uma farsa de mau gosto. O médium então tomou o seu lugar na mesa, concentrou-se e pouco depois, com a fisionomia toda transfigurada, começou a falar: “Aqui estou meu bom filho, nada tenho a dizer, apenas peço-lhe que considere sempre como um sacerdócio, essa nobre profissão de médico que abraçaste”.
O Dr. Cordolino, que não era crente, perguntou ironicamente ao médium: – Mas, irmão, como pode o espírito de Eustáquio Carrapatoso estar falando aqui, se ele está bem vivo, graças a Deus?! E o médium então respondeu friamente: – Eu não sou o marido de vossa mãe e sim o vosso pai, o Chico Gostosura, desencarnado há dois anos!…
Gritos, protestos, pancadaria, polícia. O Dr. Cordolino, preso em flagrante, teve de prestar fiança na polícia, para ter liberdade, pois fora movido contra ele um processo por ter amarrotado a fachada do médium que inocentemente revelara a verdade.
Tribuna do Norte, 10/11/1946, “Garoto da Tribuna”