A palavra ESPERANÇA é de origem latina: “Spes” a qual significa confiança em algo positivo, traduzindo-se, por extensão, em modos de vida. Ela representa uma luz que penetra fortemente nas trevas da nossa existência, preservando-nos do desespero que, muitas vezes, aterroriza a nossa caminhada. Ela possui raízes em alguma parte do nosso ser que ainda não foi tocado pela experiência. Escapa de cálculos objetivos. Ter esperança é ter fé e acreditar que determinada coisa vai realmente acontecer. É ter certeza de superar problemas independentemente de política, pandemia e religião.
O Filósofo francês GABRIEL MARCEL (1889-1973), contemporâneo dos existencialistas Husserl, Heidegger, Jaspers, antecipou e infundiu na França um estilo de reflexão sobre temas decisivos que encontraram lugar de importância e destaque no movimento existencialista e fenomenológico, sempre fazendo críticas ao cientificismo e racionalismo modernos. Autor de inúmeras obras, entre elas: “Um homem de Deus”, “Revolução da Esperança: rearmamento moral em ação”, “O conceito de herança espiritual”, todas traduzidas para o nosso idioma. Coerente, sempre defendeu o primado da existência e da verdade subjetiva. Para esse importante Filósofo, a esperança funda-se no invisível, passando do “ eu espero que” para “eu espero em”. Para ele, sob um certo aspecto, esperar é um ofertar, onde fé esperança estão intimamente ligados. Esperar é permanecer fiel, no meio das trevas, pois a esperança traz consigo um crédito à realidade, à sua força criadora. Onde acontece a sua plenitude? No intercâmbio espiritual, melhor dizendo, na participação do amor, pois, na visão de MARCEL um ser sem amor, não pode ter esperança. Dessa maneira, o amor e a esperança são sentimentos que, juntos, fazem o homem superar a tentação de isolamento, salvando-o, por conseguinte, de um esvaziamento do EU.
A questão da esperança é inerente ao ser humano, embora, para alguns, possa ser encarada como uma crença vaga que induziria a um estado de esperar um futuro improvável, sobretudo se essa espera estiver ancorada em bases religiosas e relacionada com uma vida de além-mundo. Não é por acaso que ela é vista como um tema teológico (é uma das três virtudes teologais ao lado da fé e da caridade), o que justifica a sua abordagem filosófica.
O pensamento do Filósofo alemão IMMANUEL KANT( 1724-1804) sobre esse palpitante assunto é por demais interessante! Ele se indagava: “O que me é permitido esperar?” Nas edições de uma das suas principais obras: CRÍTICA DA RAZÃO PURA” (1781 e 1787) ele escreveu: “Todo o interesse da minha razão (tanto especulativa quanto prática) concentra-se nas três perguntas seguintes: O que eu posso saber? O que eu devo fazer? O que está permitido a mim esperar? Esse fenomenal Filósofo afirmava que a esperança colocada pela razão, é concomitantemente prática e teórica, de modo que o prático serve como fio condutor para se responder à questão teórica e especulativa. Sua legitimidade está atrelada ao conceito de crenças, a qual pode ser avaliada como uma convicção bem fundamentada racionalmente ou não. Assim, KANT acreditava na esperança no progresso o qual se sustenta sob a crença na capacidade libertadora da razão. Para que o progresso ocorra, necessitamos ter esperança que ele vem acontecendo e vai acontecer desde que se trabalhe na promoção do mesmo.
Enfim, ao encararmos as perspectivas religiosa e filosófica da esperança como saberes complementares, jamais podemos esquecer que é indiscutível a superioridade do amor em relação à fé e a esperança, como afirmou Paulo, o Apóstolo (1 Cor. 13:13);” Agora pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas, o maior destes é o AMOR”. Para nós, seres humanos em evolução, estar atentos às expressões do AMOR é um imperativo, para o nosso progresso e pelo bem da Humanidade.