
Diante do sofrimento da separação conjugal, qual deveria ser a conduta médica com aquele que sofre e busca algum tipo de alívio para a sua dor? Escuta atenta, empática e isenta de julgamentos, além de informação a respeito de posturas e comportamentos que promovam o autocuidado, a recuperação emocional e o alívio da dor dilacerante da separação do ser amado. Não é mesmo?
Esses dias, eu fui acompanhar uma amiga numa consulta com um psiquiatra, e o mesmo cheio de verdades e julgamentos disse que todos nós passamos por isso, e que não seria necessário medicação mesmo porque não se trata de um transtorno mental e blá, blá, blá. Mesmo a minha colega explicando ao médico que o histórico familiar dela era cheio de pessoas com depressão, transtornos de ansiedade, dependência química e emocional.
Mesmo a minha amiga relatando o seu intenso sofrimento, prejuízos na execução de simples funções, prejuízos no sono, pensamentos intrusivos e ideação suicida. UAU! Minha amiga pensou até em internação. Mas o médico continuou apático tratando-a como quem, ou exagerava, ou só estava passando por algo muito comum a todos nós.
O que ele não saiba, talvez, é que cada um de nós tem uma capacidade de suportar quedas, perdas, demissões, traições de um jeito muito particular, que envolve o momento que estamos vivendo, a nossa genética, contexto cultural, social e etc. Talvez, ele estivesse num dia ruim. Talvez, ele nunca tenha sido amado. Ou quem sabe, talvez, ele nunca amou, e portanto, não pode dimensionar a dor?
Mas, poderia ser mais empático, talvez. Eu não quero mesmo julgar aquele médico. Mas, eu vi e vivi a minha amiga saindo ainda mais desolada da consulta, ainda mais sem esperança. O médico tem um poder sobre as pessoas, que se soubesse usar melhor, talvez melhorasse a condição de seu paciente em 50%, pelo menos, apenas com as palavras, o jeito de falar, o modo de olhar e acolher.
Espero que nos humanizemos enquanto profissionais da área da saúde, cada vez mais. Amar é preciso. Enfim, essa coluna foi uma tentativa de pedir a todos que mantenham os ouvidos e o olhar atento àquele que sofre.