“Desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração.” Essa dolorosa reflexão de Eduardo Galeano, na obra “O livro dos abraços”, é precedida por esta: “Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos?”. “Esquartejei” o texto do escritor uruguaio para produzir este efeito: primeiro, o susto; depois, o alívio: a escrita vem em nosso auxílio!
É que este artigo trata da importância da preparação para as principais provas de redação deste ano – a preparação que abrevia o susto diante de qualquer dificuldade e antecipa o alívio, expandindo-o na certeza de saber o que precisa ser feito. De modo específico, refiro-me ao sustinho inicial que quase todos os alunos experimentam diante do tema da redação, descoberto no instante de prova, após meses de suspense, assim que é autorizada a abertura do caderno de questões.
Naturalmente humana, a primeira reação após a leitura da frase temática é de surpresa, seguida por um estranhamento e certa insegurança: o que eu vou dizer sobre esse tema? Como não pensei nisso antes? Por que o professor não mencionou isso na aula? Ou será que mencionou? Por que eles dificultam tanto a vida da gente?
Tal reação costuma ser muito, muito breve – ou pode nem dar as caras – quando o aluno, de fato, se prepara para a prova. Querer vencer um desafio é o primeiro passo para vencê-lo, certeza que se torna cada vez mais nítida para este educador. Por isso, a preparação é imprescindível! E antes que me escape: o impasse gerado pela surpresa do tema é dissolvido de vez no ato da escrita. Em outras palavras, a escrita, como diria Clarice Lispector, salva! Ela vem em nosso auxílio, especialmente se nos preparamos para isso!
Estamos em agosto. Há tempo ainda para alguém se preparar? Claro que sim! É hora de se informar e refletir sobre as pautas do momento. É hora de ler e ouvir o que dizem as vozes prestigiadas daqueles que analisam o que acontece no país e no mundo. É hora de rever questões gramaticais que ainda precisam ser compreendidas. É hora de escrever – uma redação por semana! Tudo bem, não sejamos tão exatos, mas a escrita agora deve ser constante, pois é a prática, clichês dos clichês, que leva à excelência.
Tudo isso significa, com o perdão da repetição, preparação. Ciente da complexidade do desafio, devemos nos empenhar em minar essa complexidade, ou seja, esgotar o risco de perdas, ampliando as chances de ganhos e conquistas. Outra dica importante é incluir na rotina diária de estudos a leitura analítica dos chamados textos exemplares – redações de provas anteriores que receberam nota máxima. Aprendemos com quem sabe! Eis um benefício inegável da leitura: ler é aprender olhando – literalmente!
Portanto, olhos e mãos à obra: muita prática de leitura e de escrita nestes dias que nos separam da prova – que nos conectam, melhor dizendo, ao sucesso que almejamos: o notão que cada um merece em sua redação – porque se preparou, porque a educação não veio para esquartejar ninguém, mas para reparar, robustecer, fazer brilhar, fazer crescer!
Ainda em “O livro dos abraços”, no texto “A função da arte”, Galeano narra a experiência de um menino que, extasiado ao ver o mar pela primeira vez, pede ao pai: “Me ajuda a olhar!”. Parece até uma oração, e há, realmente, algo muito sagrado envolvido na situação. Mas estamos falando de arte, de uma educação plena, de totalidade (não de pedaços) – estamos falando daquilo que se escreve no presente para fecundar futuros!