Vem da longínqua antiguidade o surgimento do jornal enquanto compilador de fatos. Data de pelo menos 700 aC, nas cidades da Babilônia e da Assíria, o costume de divulgar fatos importantes referentes às leis e batalhas travadas talhando-os, ou seja, escrevendo-os (ou inscrevendo-os) em pedras estrategicamente distribuídas pelos locais de maior concentração popular.
Relembrar essa caminhada épica e evolutiva do jornal pelo mundo, passando pelas páginas de pedra para (com o surgimento da imprensa), as páginas no papel até a atualidade dos displays é assunto deveras interessante, agradável e culturalmente enriquecedor… Entretanto, a importância da data 11 de junho nos sugere recordar nesta página de papel (que também há de ser disponibilizada na versão online), um pouco da caminhada gloriosa de nossa amada Tribuna do Norte!
Antes da Tribuna Antecedendo à Tribuna do Norte o primeiro jornal que surgiu em Pindamonhangaba chamava-se Progresso. Acreditando na conveniência de recordar sua existência, damos conta que seu aparecimento se deu graças à iniciativa de dois portugueses radicados no município, Joaquim Silveira da Costa e Francisco Antonio Pereira de Carvalho, o Chiquinho do Gregório, o mesmo célebre construtor de prédios que se tornariam históricos em Pindamonhangaba). Se juntou a eles nessa empreitada o pindamonhangabense professor Álvaro Pestana. Além de fundadores, todos eles foram redatores do referido jornal. Segundo Athayde Marcondes, em Pindamonhangaba Através de Dois e Meio Séculos (1922), a direção coube a Joaquim Silveira. A data da impressão de seu primeiro número, Athayde Marcondes, na obra acima citada, coloca como sendo em 9 de julho de 1863. Data esta depois repetida no livro de Rômulo Campos D’Arace, Retrato da Princesa do Norte (Editora Piratininga, São Paulo-SP/1954). Encontramos, entretanto, dois registros que apontam que o Progresso teria surgido nove dias antes da data mencionada por Athayde. Em sua obra Imprensa Provinciana (1983), Antonio Mello cita dois periódicos existentes em Taubaté na época (1863), que haviam noticiado o aparecimento do daquele que teria sido o primeiro jornal de Pindamonhangaba…
Em sua edição de 4 de julho daquele ano, o “O Taubateense” publicou: “Novo Jornal – No dia 30 do mês último (referia-se a junho) saiu à luz em Pindamonhangaba um jornal intitulado Progresso, que se propõe advogar os interesses daquela localidade. Fazemos votos pela conservação de mais esse campeão, que na arena jornalística tem que pugnar pela causa do progresso”. No dia seguinte “O Paulista”, edição de 5 de julho de 1863, também divulgou o aparecimento do pioneiro dos periódicos de Pindamonhangaba: “Jornal – Recebemos o primeiro número do jornal Progresso que se imprime na cidade de Pindamonhangaba. Desejamos ao nosso colega e vizinho longa vida no nobre empenho a que se propõe, que é advogar os interesses materiais do município”. Nove de julho ou 30 de junho, infelizmente foi efêmera a existência do 1º jornal pindamonhangabense, três anos apenas, deixando de existir, e aqui retornamos à imprescindível obra de Athayde Marcondes, em 17 de maio de 1866. Desabrocha uma folha liberal…
Inverno de 1882… manhã de domingo, 11 de junho. Pindamonhangaba dos coronéis, barões e até visconde; dos palacetes, casarões e chalés desperta para mais um dia. Um dia a menos de serventia para os grilhões, o tronco e o chicote nas fazendas dos escravagistas: aproxima-se a abolição geral e irrestrita dos homens cativos, a libertação dos escravos… Ainda atrelada ao sentimento de nobreza e realeza, apesar de aproximar-se também o fim do regime monárquico, a “Princesa do Norte” acorda sem despertar completamente para a melancólica realidade: a queda na produção cafeeira no Vale do Paraíba. O desgaste do solo e a significativa queda na mão de obra ocasionada pelas primeiras leis abolicionistas, havia contribuído para o gradativo desaparecimento dos cafezais. A cultura do café, responsável pelo aumento demográfico, pelo aparecimento de palacetes e casarões, pela ostentação de luxo e riqueza, está deixando as terras da “Princesa”. Vai em busca de outras terras, mais férteis. Terras ainda não utilizadas, portanto, mais nutridas, localizadas em regiões onde os braços livres dos imigrantes se oferecem como mão-de-obra interessada e disponível. Aquela manhã de domingo ficaria marcada pelo início da circulação de periódico que havia nascido ali na tipografia instalada no velho sobrado da rua Independência (atual Bicudo Leme), em frente à igreja matriz. Ali, letra por letra, tipo por tipo, artigo por artigo e anúncio por anúncio suas páginas foram compostas, depois veio a impressão… manual e trabalhosa. Nas braçadas a girar a manivela da impressora, o suor humano completou o ciclo da criação, contribuindo com a história da imprensa interiorana… fazendo vir à luz a edição nº 1 do jornal Tribuna do Norte, desabrochava a folha liberal do jurista, político e poeta Dr. João Marcondes de Moura Romeiro.
O significado do nome POR QUE “TRIBUNA”. Porque surgiu com a missão de ser um manifesto, uma “tribuna”. Não o lugar elevado onde os oradores falam, mas antes o púlpito destinado à prática do bom jornalismo. Seu fundador era homem acostumado a ir às tribunas expressar brilhantes manifestos, não somente devido ao exercício da advocacia, atividade profissional que trazia nas veias, mas também como político atuante nas casas legislativas (âmbito nacional e municipal), quando em defesa das mais interessantes causas. O tratamento no feminino – a Tribuna – explica-se pelo fato que no tempo de sua fundação, jornal era denominado “folha” e geralmente possuíam um só caderno. A origem da denominação “folha” surgiu em 1566, em Veneza, Itália, com a iniciativa do governo veneziano de publicar folhas manuscritas, as espalhando pelas ruas. Para lê-las, a população teria que pagar uma pequena quantia chamada “gazetta”. Foi a partir daí que a palavra gazeta (também feminina) passou a ser utilizada para denominar todas as folhas escritas, as publicações políticas, doutrinárias, literárias ou noticiosas.
Retornando ao tempo da fundação da Tribuna do Norte, temos a informação de que naquela época havia um processo tipográfico por intermédio do qual se determinava o formato (altura e largura) e o número de páginas de um periódico de acordo o número de dobras verificadas na folha de papel de impressão. A folha sem ser dobrada (in plano) formava duas páginas; dobrada ao meio (in fólio) formava quatro páginas; dobrada duas vezes (in quarto) formava oito páginas etc. A edição nº1 da Tribuna saiu com quatro páginas (in plano), formato 30x46cm, diagramada em cinco colunas, exceto a última página, destinada aos anúncios.
POR QUE “DO NORTE”. Este complemento lhe foi atribuído porque Pindamonhangaba, localizada no médio Vale do paraíba, estava incluída num antigo itinerário dos bandeirantes, denominado “Caminho do Norte”, referindo-se a esta região como sendo o Norte da cidade de São Paulo (capital da Província), ponto de partida das bandeiras que seguiam rumo aos sertões de Minas Gerais. O complemento “…do Norte” do título “Princesa do Norte” com o qual Pindamonhangaba foi agraciada em 1860 foi por conta dessa referência cardeal. Isso ocorreu quando o cronista Emílio Augusto Zaluar percorrendo cidades de São Paulo, com a finalidade de anotar os costumes e a cultura dos povos paulistas para publicar o livro Peregrinação pela Província de São Paulo, ao chegar em Pindamonhangaba se encantou com o lugar. As paisagens bucólicas, vida cultural e social, títulos nobiliárquicos, brasões, casarões e palacetes serviram de inspiração ao poeta, então repórter do século XIX, a homenageá-la com esse título de nobreza.
O fundador da Tribuna, João Marcondes de Moura Romeiro, nasceu no dia 26 de maio de 1842, filho de Ana Marcondes de Moura Romeiro e de José Romeiro de Oliveira, sargento-mor da Guarda de Honra do Príncipe Dom Pedro I. Casou-se com sua sobrinha, Ana Francisca Marcondes de Moura Romeiro, e teve 14 filhos. Foi advogado, juiz, jornalista, deputado, vereador e escritor. João Romeiro teve uma vida profícua de realizações, conquistas e muito êxito em todos os seguimentos nos quais atuou em favor de sua Tribuna, de Pindamonhangaba e do Brasil. Destacou-se na área jurídica, jornalística e política, sendo que nestas duas últimas alcançou respeito e admiração em sua atuação em favor de duas conquistas que nos remetem à história da pátria: Proclamação da República e Abolição da Escravatura. Morreu aos 73 anos, no dia 8 de julho de 1915, dois dias antes do 210º aniversário de emancipação político-administrativa de sua terra natal.
A trajetória secular de 1882 até este mês de junho de 2024 tem sido com persistência, resignação e criatividade que a Tribuna tem encarado as dificuldades e atitudes desafiadoras à sua sobrevivência… As lutas para continuar existindo, compostas de inúmeras batalhas, as dividimos em duas: Uma sendo a da Tribuna enquanto periódico, enquanto imprensa que não se omitiu à divulgação de fatos, condutas, procedimentos, atitudes e acontecimentos negativos à estabilidade do bom convívio social, como as guerras mundiais, revoluções, epidemias, pandemias, rusgas políticas, movimentos etc. Nessa luta inclua-se também o jornal enquanto periódico que registra edição a edição as coisas do município, seus destaques, suas carências… sua história! A outra luta diz respeito ao enfrentamento dos períodos críticos, das necessidades que tornavam tarefa hercúlea botar uma edição na rua. Tarefa e compromisso daqueles que estiveram à frente e lado a lado com a Tribuna, para que o jornal continuasse galgando os anos apesar das dificuldades. Foram tantas as lutas para sobreviver. Em sua andança histórica foi propriedade particular de alguns, recebeu amparo e guarida em entidades sociais e também representou bandeiras políticas partidárias.
Em 1962, Darcy Vieira Ferraz tendo a herdado de seu pai Martiniano Vieira Ferraz, e cumprindo uma vontade já acalentada por este, ele a doou à Prefeitura Municipal de Pindamonhangaba. Entretanto, somente dois anos depois, em 1964, a Tribuna do Norte passou a ser identificada com “Imprensa Oficial do Município”, mantendo em seu cabeçalho o complemento: “Órgão Dedicado aos Interesses de Pindamonhangaba”. Em maio de 1980, o Executivo Municipal foi autorizado a instituir a Fundação Dr. João Romeiro mediante lei aprovada e promulgada pelo prefeito Geral