Todos nós temos o conhecimento de que a dor e o consequente sofrimento são experiências inerentes à condição humana, trazendo um peso significativo, seja físico, emocional ou mental. Nada mais gratificante do que apreciar o que nos dizem alguns pensadores sobre esse assunto tão importante.
Epicuro (Grécia, 341 a.C. – 270 a.C., filósofo do período helenístico que preconizava a procura da felicidade por meio da sabedoria e prazeres moderados) asseverava que a dor e o sofrimento residem nas sensações, no nosso viver com um peso enorme, e para ele, se a morte é o aniquilamento da experiência existencial, o sábio nada tem a temer.
O filósofo Sêneca (nascido em Córdoba em 65 a.C. e falecido em Roma, influenciado por Sócrates, considerado um dos maiores filósofos do Império Romano no ano 4 a.C.) defendeu a ideia de que o bem mais elevado é viver de acordo com a virtude, o que traz a noção de coragem e justiça. No seu livro “Sobre a Brevidade da Vida”, Sêneca argumenta que a dor é inevitável na vida, mas que podemos escolher a nossa atitude perante ela. É por meio da aceitação da dor e da sua natureza transitória que podemos atenuar o seu formidável poder sobre nós. Ao tomarmos consciência de que ela é integrante do nosso processo existencial, somos capazes de desenvolver resiliência e encontrar um senso de serenidade interior.
Nesse sentido, o filósofo existencialista Viktor Frankl (1905-1997, autor de “Em Busca de Sentido”, neuropsiquiatra austríaco que viveu quatro anos os horrores dos campos de concentração nazista) defende a brilhante tese de que o processo dor-sofrimento pode ser transcendido ao se encontrar um propósito de vida. Para ele, a busca de um significado é fundamental para enfrentar a dor e alcançar uma existência autêntica.
Nietzsche (1844-1900, filósofo, poeta, compositor prussiano, que estudou a relativização das noções de Deus, mal, bem, verdade e justiça) no seu livro “Humano, Demasiado Humano”, mostrou que o sofrimento e a dor são elementos essenciais da existência humana, e somente com o confronto direto com a dor é que vamos adquirir a força imprescindível para enfrentar os desafios futuros. Sua inteligente frase: “É preciso doer como nunca para não doer nunca mais” reflete essa visão, mostrando-nos que a dor intensa é uma espécie de catalisador para sua superação e nosso crescimento pessoal.
Mais do que nunca, é importante lembrar o que diz a tradição budista, ao encarar a dor como uma oportunidade para a transformação pessoal. O mestre budista Thich Nhat Hanh (1926-2022, monge vietnamita, líder pacifista que se opôs à guerra do Vietnã), em “A Essência dos Ensinamentos de Buda: Transformando o Sofrimento em Paz, Alegria e Libertação”, nos ensina que a dor é uma parte essencial do caminho espiritual e que sua sabedoria pode nos guiar para um estado de compaixão (por nós mesmos e pelo outro) e iluminação.
E o que dizer do exemplo de Cristo, o Nazareno, para quem a dor nos aproxima do Pai, seja qual for a sua origem, e nos encaminha para as sendas da reflexão, do perdão e da paz espiritual?
Dessa maneira, ao apreciar de maneira muito sintética o pensar desses seres que honraram o gênero humano sobre o tema em pauta, observamos que todas as visões nos conduzem e nos encorajam a abraçar a dor e o sofrimento como grandes oportunidades para desenvolvimento pessoal e transformação.