Era fim de tarde daqueles em que o céu está tingido de cinza e laranja, parecia dizer em voz baixa segredos antigos entre os arranha-céus da grande cidade.
No meio da afobação metropolitana — buzinas, celulares, sirenes, vozerio, passos apressados — poucos notaram o que se passava na esquina.
Dois homens pararam frente a frente. Não estavam vestindo armaduras, nem portavam katanas visíveis. Um estava com um terno escuro, bem cortado, tipo daqueles que não amassam mesmo depois de um dia inteiro de batalha corporativa. O outro, usava jeans gastos, camisa de linho, trazia uma mochila nas costas e um olhar que carregava na memória florestas de bambu.
Permaneceram ali, imóveis, por um momento que perdurou mais do que o suficiente. Como se houvessem se reconhecido — não como estranhos, mas como espelhos de uma mesma alma antiga.
Ninguém percebeu o duelo silencioso que se travou naquela esquina. Era um evento de histórias, de olhares que não se diziam em voz alta. Não havia espada, mas havia honradez. Não havia grito, mas havia tempo. Um tempo que só guerreiros entendem, um tempo entre a mão e o gesto preciso.
Um passou pelo outro com uma leve inclinação de cabeça. Um cumprimento sutil, antigo, cheio de significados que se perderam com os séculos. Ambos seguiram seus caminhos.
Um voltou para sua reunião no 25º andar de um prédio envidraçado. O outro desapareceu entre os prédios.
A cidade continuou como se nada tivesse acontecido. Mas ali, por um breve momento, o passado e o presente se cruzaram. Dois samurais se encontraram…