Os membros da missão espacial Inspiration4, que levou quatro civis ao espaço, voltaram para a Terra geneticamente mais jovens — mas somente por um breve período. A descoberta foi feita por pesquisadores da Escola de Medicina Weill Cornell, nos Estados Unidos, entre outras instituições.
A tripulação da Inspiration4 passou apenas três dias no espaço. A estadia foi curta, mas foi suficiente para Hayley Arceneaux, diretora médica e médica-assistente da missão, coletar amostras de sangue e pele dela própria e dos demais membros da missão. O Inspiration4 foi o primeiro voo orbital somente com pessoas que não fazem parte de uma agência espacial. Ele foi operado pela SpaceX, usando um equipamento Crew Dragon.
O material biológico foi analisado logo após o retorno deles à Terra, e rendeu novas análises alguns meses depois. Publicados na última terça (11/5), os resultados mostram que o ambiente espacial tem efeitos profundos no corpo humano, os quais podem ser detectados nos exames de sangue com a análise dos telômeros, poucas horas após a chegada à órbita.
Os telômeros são sequências repetitivas de DNA que existem nas extremidades de todos os cromossomos humanos. Os telômeros têm a função de proteger e separar os cromossomos, e são semelhantes à capa plástica de cadarços de sapato, que impedem que o cadarço desfie, estrague e perca sua função. Em cada célula humana existem 23 pares de cromossomos, portanto, 92 telômeros (um em cada extremidade de 46). Mas estas sequências diminuem com o passar dos anos, seguindo o ciclo vital de cada indivíduo. Segundo os autores, os telômeros dos participantes aumentaram no espaço, portanto, o DNA dos membros da missão pareceu mais jovem e mais saudável.
“Eles ficaram no espaço apenas por alguns dias, mas já pudemos ver as primeiras assinaturas da exposição do corpo ao voo espacial, incluindo alterações nas proteínas e na expressão gênica”, comentou Chris Mason, professor que liderou dois dos novos estudos.
Só que, após o retorno deles à Terra, os telômeros encolheram quase imediatamente — inclusive, ficaram menores do que eram antes do voo. Os pesquisadores ainda não sabem o que causou o encolhimento, mas esperam encontrar alguma forma de controlar esta resposta no futuro.
Assim como acontece com astronautas que passam longos períodos no espaço durante suas missões, os corpos dos tripulantes da Inspiration4 também mostraram perda muscular e óssea, bem como maior estresse cerebral. Estes sinais de envelhecimento voltaram aos níveis normais após seis meses.
Os autores envolvidos nos novos estudos esperam que os dados obtidos contribuam para a seleção de pessoas mais preparadas geneticamente para as viagens espaciais. E ainda, as descobertas podem ajudá-los também a encontrar formas de reduzir os impactos para aqueles em situações mais desfavoráveis.
“Queremos usar esses dados para prever como as pessoas vão reagir ao espaço em nível fisiológico e molecular”, explana Mason. “Futuramente gostaríamos de encontrar maneiras de melhorar a resposta, direcionar algumas das mudanças com algum medicamento e ajudá-las, para que não deixemos ninguém excluído de ir ao espaço”, finalizou Mason.