
Escritora, poetisa e
membro da
APL – Academia
Pindamonhangabense
de Letras
No bairro do Quilombo, em São Bento do Sapucaí – SP, aos 12 de março de 1945, nascia Benedito da Silva Santos – o “Ditinho Joana” –, filho de Maria Joana de Jesus e de Benedito Joana da Silva, tataraneto de uma escravizada que, tendo fugido de uma fazenda de Minas, encontrou a tão sonhada liberdade naquele canto da Serra da Mantiqueira e lá cultivou a terra, a sabedoria e a grandeza de bendizer o que é mais sagrado: a vida!
Ditinho cresceu junto às lavouras de arroz, milho e feijão cultivadas pelo pai para o sustento da família. Como muitas crianças da roça, caminhava quilômetros a pé até a escola para aprender as primeiras letras. Todo santo dia, o “emborná” do menino vinha repleto das pequenas aventuras colhidas pelo caminho e das suas primeiras coleções de histórias.
Aos 29 anos, Ditinho foi agraciado com uma “emboscada” que mudaria o seu destino: percebeu a imagem de um gato, uma girafa, um cachorro ou, quiçá, um cavalo, escondida numa raiz de árvore encontrada num riozinho da roça em que trabalhava. Levou-a para casa e, ao contemplá-la para tentar desvendar o animal nela contido, sentiu despertar em si o desejo de esculpir em madeira.
Sua primeira escultura – um padre e um índio – foi entalhada durante várias noites, após a labuta na lavoura, à luz de lamparina que a sua mãe ternamente segurava para “alumiá” o trabalho do filho.
Desde então, a escultura tornou-se o seu pão de cada dia!
Num único bloco de madeira nobre – jacarandá, taiuva ou pereira –, Ditinho Joana entalha o que seus olhos da alma veem, de modo especial, o cotidiano da cultura caipira: botinhas, um antigo armazém, um mutirão fazendo uma casa de pau-a-pique, uma roda de violeiros, um caminhão atolado, uma família indo passear de charrete, um homem com a lâmina do facão ainda molhada de nódoa levando o cacho de banana “pra madurá” em casa, e também peças diversas sob encomenda – o “terno abraço” dos amigos Kátia e Severino, o São Francisco com dois cães e três pássaros que adorna o altar da minha casa…
Com o tempo, suas esculturas ganharam um espaço permanente de exposição no bairro do Quilombo – o “Ateliê Ditinho Joana” –, parada obrigatória de quem visita São Bento do Sapucaí ou daqueles que, motivados pelas reportagens concedidas pelo artista em programas de alcance nacional (Jô Soares, Globo Rural, TV Futura, TV Aparecida, Revelando SP, dentre outros), vêm de longe para conhecê-lo e prestigiar sua arte.
Ditinho Joana é também dotado de um talento excepcional para a contação de histórias. Ao ouvirmos seus causos, ficamos encantados com os enredos e seus desfechos, seu jeito singular de imitar a fala dos personagens, e, quando menos percebemos, suas histórias passam a morar em nosso coração para nunca mais serem esquecidas.
Digo o mesmo de suas esculturas: contemplá-las é uma experiência singular, indizível, inesquecível!
Esse escultor-menino, que fez da vida uma arte, celebra 80 anos!
Nos 51 anos dedicados ao entalhe em madeira, vê-se que o Tempo também foi um grande escultor! O Tempo viu naquele jovem do Quilombo o escultor das miudezas do homem do campo e não perdeu tempo de nele esculpir a peça primordial do Jardim do Senhor: o amigo de toda gente, o honrado pai de família, o encantador de histórias, o artista de renome cujas obras ganharam o mundo, expostas em galerias e coleções particulares.
Que a lamparina de dona Maria Joana continue a iluminar suas esculturas e sua história!