A Teoria Literária nos ensina que o romance surgiu para representar, bem como ser o reflexo de um povo. Pertence ao gênero literário narrativo apresentado na história completa em que figuram o narrador, o enredo, a temporalidade, a ambientação e os personagens estabelecidos de uma maneira o mais clara possível. Ao levantar evidências sobre o existencial do outro, sobretudo para o sofrimento, questionando as injustiças, o escritor mergulha no sentimento fraterno que aponta para o desejo forte de propor uma realidade compatível com a dignidade humana, gritar contra o sofrimento em que se encontram à margem da sociedade preconceituosa, cruel e discriminatória.
No seu relato fiel das que vivem na prostituição, o autor, de maneira cristalina, com vocábulos apropriados, anseia (e, com certeza, consegue!) levar o leitor a refletir sobre a realidade social, as desigualdades gritantes na qual estão inseridas essas mulheres. Todos esses aspectos podemos enxergar de maneira evidente ao ler “DESCAMINHOS”, publicado pela Editora Viseu (2023), mais uma obra do competente e talentoso escritor conterrâneo – MAURILO FREITAS-, filho da amada Limoeiro do Norte, a “Princesa do Jaguaribe” no sertão do inesquecível Ceará, a qual provoca uma leitura instigante, significativa, que mexe com todos os neurônios e alma.
A escrita de MAURILO é elegante mostrando uma trama muito bem arquitetada, com personagens fortes, definidos, num contexto histórico da bela “Terra dos Jaguares”. De imediato, “DESCAMINHOS” me conduziu até o afamado escritor, também cearense – José de Alencar, de uma maneira especial a uma das suas obras: “LUCÍOLA” em que surge a prostituta idealizada, como afirmou o grande crítico literário patrício Agripino Griecco e ao festejado e louvado escritor piauiense-Assis Brasil, o qual, ao escrever o marcante romance “BEIRA-RIO, BEIRA VIDA” desvelou a prostituição sem nenhum tipo de idealização ao enfocar o protagonismo das prostitutas da “beira do cais, no Parnaíba”. MAURILO, como pontuei, apresenta-nos personagens tão bem descritas e definidas, numa contextualização histórica, com uma trama inteligente nos mostra que é bom romance, e à maneira de Assis Brasil, revela-nos, sem disfarces o devir feminino, as vicissitudes do feminino, dentro da injusta realidade da prostituição com palavras bem colocadas, impregnando impressionante autenticidade às mulheres que aborda com tanta propriedade.
Trago comigo a convicção de que o desejo do autor é nobre, roga, no íntimo, que o nosso sofrido Brasil deixe de ser a histórica ‘Pátria das Chuteiras” (em que o jogador de futebol é endeusado, cercado de riquezas materiais e benesses) e seja a “Pátria da Educação” em que todos consigam vislumbrar esperanças e um futuro digno e promissor. “DESCAMINHOS” narra e denuncia uma realidade dura e injusta, dos que não têm voz nem vez e que necessita ser transformada, para o bem da Pátria e da Humanidade.
Meus efusivos votos de sucesso crescente ao MAURILO que traz consigo as lições de humanismo recebidas do nosso Colégio Diocesano Padre Anchieta de Limoeiro do norte, por meio dos seus Grandes Mestres, dos quais ressalto o saudoso Padre Francisco de Assis Pitombeira, mestre de tantas gerações. Ao cumprir um dos papéis de um verdadeiro escritor sintonizado com o seu tempo e sua gente, que é denunciar as mazelas sociais, ele nos conforta e traz as luzes da esperança de um mundo melhor.