
Vivemos um tempo curioso, em que a sociedade oscila entre a necessidade urgente de ser desafiada e o desejo profundo de ser consolada. De um lado, há a convicção de que somente o enfrentamento direto dos problemas — sejam políticos, sociais ou emocionais — produz mudança real. De outro, cresce a compreensão de que ninguém transforma nada quando está esgotado, ferido ou desamparado.
Ser desafiador, hoje, tornou-se quase um aviso de sobrevivência: é preciso questionar verdades fáceis, desconfiar de slogans sedutores e ir além das respostas prontas. Mas o desafio sem cuidado produz apenas ruído, não avanço. É preciso confrontar com lucidez, não com fúria.
Ao mesmo tempo, o consolo vem sendo injustamente tratado como fraqueza. A sociedade esquece que, sem acolhimento, não existe fôlego para encarar a próxima batalha. O gesto que conforta também sustenta, também fortalece.
O equilíbrio entre esses dois movimentos — desafiar e consolar — talvez seja a responsabilidade mais urgente deste século. Precisamos de coragem para falar verdades difíceis, mas também de sensibilidade para compreender as fragilidades alheias. Um editorial, afinal, não deve apenas apontar rumos: deve lembrar que nenhum caminho se percorre sozinho.








