Desde que ele voltou da lua de mel, a sogra se enfiou na casa dele, dando palpite em tudo, reclamando disso e daquilo. Geralmente, ela chegava com bagagem para alguns dias e começava: — Cadê a comida desta casa? Está pensando que minha filha é passarinho? – gritava avaliando a despensa e fazendo lista de compras – Tome! Vá comprar! A-go-ra! Assim que ele voltava com as mercadorias, a velha bombardeava: — Minha filha é uma princesa! Você não tem vergonha de comprar shampoo vagabundo pra ela? Ele aguentou por um, dois meses. No terceiro, explodiu: — Escuta aqui, bruxa insuportável. A partir de hoje a senhora está proibida de por os pés nesta casa. A mulher dele virou fera. — Você está ficando louco? Isso é jeito de falar com a minha mãe? Peça desculpas agora, seu idiota, senão… — Senão, o quê? — Eu vou embora. Ela não foi. Ele foi, deu entrada na papelada do divórcio e, meses depois, estava livre, gozando férias na Itália, onde conheceu uma garçonete brasileira. Ela era meiga, carinhosa, discreta, simples, falava com brandura, totalmente diferente da ex-mulher. Fascinado pela moça, esperava o fim do expediente para conversar com ela.
— Qual o seu maior sonho? — Tenho muitos. Mas, no momento, quero voltar ao Brasil. — E por que não volta? — Falta dindim. — Volta comigo. Naquele momento, eles se abraçaram e o primeiro beijo aconteceu. Na semana seguinte, desembarcavam como namorados, em terras brasileiras. No aeroporto, em uma cafeteria, ela contou: — Saí do Brasil após brigar com a minha família por um motivo fútil. Minha mãe disse que se eu fosse embora, era pra esquecer que tinha mãe. Fui assim mesmo. Eu era muito orgulhosa… Apanhei muito da vida nesses três anos na Itália. Mas foi bom. Refleti que a vida é um sopro, e não quero sentir remorso quando minha mãe morrer. Precisava voltar para fazer as pazes. Ele ofereceu lenço para que enxugasse as lágrimas e a abraçou demoradamente. — Assim que terminarmos o café irei levá-la até a casa de sua mãe. Quero conhecer a minha sogrinha. Ela riu e disse: — Não precisa me levar. Eu avisei que estava retornando hoje. Ela chorou ao telefone e disse que viria me encontrar no aeroporto… Eu disse a ela que tinha uma surpresa. A surpresa é você, meu amor. Eles se abraçaram e, quando iam se beijar, ouviram: — Filhinha! A mãe da namorada se aproximava de braços abertos. Ele, que estava de costas, virou-se, viu a mulher e desmaiou. A velha era a sua antiga sogra.
