A coragem é uma palavra de origem latina: “Coraticum”, a qual significa a bravura que é proveniente de um coração forte. No senso comum, significa a ausência de medo, conceito esse é por demais simplista. No hebraico, existem diversas palavras para dizer coragem, sendo que “OMETZ” nos remete a uma poderosa força interior caracterizada por firmeza e resistência moral para enfrentar dificuldades.
Para o filósofo grego Aristóteles, ela representa uma força interna extremamente essencial para que possamos trilhar os caminhos tortuosos da vida, e, no seu entender, ela representa a melhor qualidade do ser humano ao lado da honra. Essa força fantástica, criada para enfrentar o medo e as adversidades, possibilita mantermos perseverança e coerência em situações desafiadoras, conferindo-nos estabilidade psíquica para resistir às pressões, mesmo que tal atitude represente um custo pessoal.
Como será que ela se manifesta? Nas nossas atitudes diárias, superando limites, passando a trilhar o viver de forma significativa, as quais trazem no seu bojo essa energia moral e que mostram equilíbrio nas decisões verdadeiras carregadas de sentido.
Nessa direção, não podemos esquecer outro filósofo da Antiga Grécia: Platão, o qual deixou escrito na sua fenomenal obra “A República”, que a coragem não é simplesmente audácia, mas a firmeza de preservar o senso do que é justo e obedece critério das leis que regem o relacionamento das pessoas. A coragem, vai mais além, é um compromisso assumido com atos de resistência, ao tomarmos atitudes coerentes e sensatas para viver uma vida que vale a pena viver, sobretudo com ações corretas, equilibradas e equânimes que possam beneficiar o nosso semelhante.
Já nos tempos mais recentes, o psicanalista suíço Sigmund Freud nos ensina que a coragem é uma atitude da qual necessitamos para que a dor que atinge o autoconhecimento seja transmutada em aprendizado. É um grande ato de coragem enfrentar o inconsciente, trazendo luz ao que provoca conflitos internos, dando ensejo a uma vida mais autêntica. Ele enfatiza, portanto, que o inconsciente deve ser compreendido e reelaborado, para que se alcance a liberdade psíquica. Para ele, a dor não tem nada a ensinar àquele que não busca coragem e audácia para escutá-la.
Como a Filosofia se comporta ante esse importante fenômeno humano? Ela nos suplica que façamos sempre uma escolha pela coragem, para enfrentarmos, sem hesitar, as premissas falsas, enganadoras, dos que se aproveitam da boa-fé do nosso próximo, fatos esses tão comuns nos dias de hoje! Assim, interrogamos: qual o verdadeiro sentido falar em coragem num mundo convulsionado por conflitos, que parece ter perdido o sentido no vazio dos discursos, nas mensagens abundantes e fúteis, em especial nos meios de comunicação?
No entanto, ante o desastre social que presenciamos, num mundo em que a subversão de valores, pleno de questões desesperadoras, como a exclusão que oprime, a miséria que se expande, FAZ SENTIDO, SIM, falar em coragem para jamais sermos tragados pelo terrível dragão da apatia!
Enfim, o que a vida espera de todos nós? Guimarães Rosa, um dos nossos maiores escritores, autor de “Grande Sertão Veredas” e “Sagarana”, nos deixou escrito: “O correr da vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desequilibra, o que ela quer da gente é coragem”!
