Em situações de conflito, é comum a estratégia de conhecer o oponente – idiossincrasias, valores, vulnerabilidades – a fim de neutralizar sua ação. No discurso dissertativo-argumentativo, vale a mesma premissa: conhecer quem se opõe à tese defendida contribui para o sucesso da empreitada de persuasão. Por isso, os manuais de redação destacam a necessidade de todo autor conhecer o auditório de seu texto, ou seja, o público-alvo de seu discurso. Há que entender, ainda, que, nesse caso, são sempre dois os auditórios: o interno e o externo.
O auditório interno é aquele envolvido na situação temática do texto: numa dissertação que aborde a questão do preconceito racial, por exemplo, o auditório é a pessoa e o contexto racistas – é o pensamento difundido por esse público e nesse cenário que precisa ser, evidentemente, combatido. A clareza quanto a tais elementos envolvidos diretamente na discussão deve orientar toda a argumentação sobre o tema.
Ora, tão importante quanto o interlocutor interno, é o interlocutor que não participa objetivamente do discurso, mas que está completamente ligado a sua produção: o corretor do texto. Sim, esse auditório externo determina como deve ser elaborado o discurso, afinal, é o avaliador da dissertação, que, munido de critérios de correção, determinará o êxito ou o insucesso do autor. A boa notícia é que todas as bancas avaliadoras disponibilizam seus critérios de correção para a comunidade acadêmica. O Enem, por exemplo, publica a cada ano a chamada Cartilha do Participante, com uma série de informações e instruções, destacando-se a análise de textos exemplares da prova anterior e, claro, as famosas competências avaliadas pela prova: são cinco, cada uma valendo 200 pontos, oferecendo, portanto, ao candidato a chance da conquista dos desejados 1000 pontos.
A primeira competência avaliada é o domínio da escrita formal da Língua Portuguesa. Entram em cena todos os conhecimentos gramaticais estudados na escola, incluindo elementos sintáticos e ortográficos. Em outras palavras, é preciso escrever bem e de acordo com a gramática normativa.
Na segunda competência, o foco está no conteúdo do discurso: a correta abordagem do tema, a tipologia textual exigida (dissertação argumentativa), a argumentação e o repertório sociocultural mobilizado para a fundamentação das ideias. Trata-se, portanto, da avaliação do QUE o candidato trouxe em seu texto, a partir da compreensão da proposta de redação.
Já a terceira competência consiste no COMO: a organização textual, a maneira como ideias e informações foram desenvolvidas na defesa da tese, configurando um discurso coerente e justificável. Para isso, é primordial a elaboração de um projeto de texto que se concretize em sua execução, ou seja, o texto é a materialização de um pensamento cuidadosamente elaborado.
Para que tal pensamento seja perfeitamente decodificado pelo leitor, os recursos coesivos – constituintes da quarta competência – são essenciais: são eles que explicitam as relações sequenciais e referenciais construídas no discurso a fim de orientar o entendimento de todo o conteúdo apresentado. Sim, o uso de conectores de texto (conjunções, advérbios, sinônimos, pronomes, expressões resumitivas) elimina qualquer margem de dúvida, daí sua imprescindibilidade.
Finalmente, a quinta competência envolve a elaboração eficiente de propostas de intervenção (ou apenas uma) para as problemáticas discutidas no texto. Tal intervenção precisa, é claro, respeitar os direitos humanos e trazer cinco elementos em sua composição: agente (quem deve fazer), ação (o que dever ser feito), modo/meio (como deve ser feito), efeito (a finalidade da ação) e o detalhamento de um desses itens.
Tudo isso deve nortear o discurso dissertativo-argumentativo, segundo os avaliadores do Enem. Para ter sucesso, basta seguir à risca cada exigência, ser competente e… vencer!