Fazia quinze minutos que chegara do trabalho. Estava no banho quando a campainha tocou. A esposa foi atender. Ele desligou o chuveiro, se enxugou, vestiu-se e esticou os ouvidos:
— Hoje ele chegou mais cedo. Tá saindo do banho.
— Eu espero.
— Aceita um cafezinho?
— Se não for incomodar…
Ele ouvia e pensava: “Essa voz parece ser da… Não, não pode ser. Ela não se atreveria.” Incomodado com a dúvida, perguntou:
— Amor, quem tá aí?
A voz da esposa soou enigmática:
— É a sua prima.
— Prima?
— Qual o seu nome mesmo?
— Fifi. Meu nome é Fifi.
— É a Fifi, amor – berrou a esposa.
Ele desbotou. Era ela. Fifi, o seu caso extraconjugal. Há duas semanas, ele havia pedido um tempo para assimilar a situação. Ela estava grávida. Dele. Era o que ela dizia. O último contato foi feito através da mensagem ameaçadora no WhatsApp: “Se não me retornar, irei atrás de você.”
E agora? O que deveria fazer? Pensou em pular a janela e se esconder no fim do mundo. Mas sabia que Fifi o encontraria até em Marte. Precisava resolver aquela situação de uma vez por todas. Por isso, estufou o peito e foi à guerra.
— Priiiiiima, me desculpe. Eu havia me esquecido. Mas você sabe que eu cumpro tudo que prometo, não sabe? Titio precisa de sangue e eu vou doar. Já estou pronto. Vamos?
Fifi agradeceu a hospitalidade da “sócia”, dizendo que esperaria no carro. A esposa o segurou pelo braço e soltou os cachorros:
— Prima, né? Desde quando? Pensa que sou boba? Quando você voltar vamos ter uma conversinha olho no olho. Vai ter que me explicar direitinho essa história de prima.
Ele entrou atordoado no carro, enquanto a esposa recitava todos os palavrões que conhecia. Assim que o veículo partiu, ela abriu a garrafa de uísque e encheu o copo. Depois do primeiro gole, lembrou-se do que estava fazendo antes de o marido chegar. Caminhou até o quarto, agachou-se e espiou o homem nu debaixo da cama. Disse carregada de raiva:
— Pode sair. Meu marido foi passear com a namoradinha.