Todos os finais de tarde, meu vizinho saía para passear com a Gertrudes, a cachorrinha maltês. O nome foi escolhido pela mãe dele e, embora ele contestasse dizendo que preferia Cinderela, ela não autorizou o renomeio.
Há algumas semanas ele me contou, com detalhes, sobre o encontro inesperado com a loira. Disse-me que, passeando pela pracinha do bairro, viu a mulher de corpo escultural carregando o poodle no colo. Ela passou apressada, dizendo:
— Tá cansadinho, né, meu amor. Nós já estamos indo embora. Mamãe vai preparar um banho gostosinho pra você.
Meu vizinho disse que a beleza da loira era indestronável.
— Juro! – ele insistia – Não existe loira mais linda do que ela.
— Mais linda do que a Bruna Lombardi? – desafiei – Duvido!
— Você tá de brincadeira!
— E a Taylor Swift?
Eu enumerei loiras lindíssimas, mas ele desqualificou todas elas.
Ele também me contou que nas tardes seguintes passou a permanecer mais tempo na pracinha, na esperança de reencontrar a loira. E ela apareceu numa tarde chuvosa, de calça branca, com o cãozinho no colo. Sem perder tempo, ele a abordou:
— Oi. Seu poodle é belíssimo.
— Muito obrigada. Este lindinho estava estressado, pedindo pra sair. Esperei a chuva parar pra dar uma voltinha. Ele está louco para caminhar, mas não vai: tem muita poça e barro.
— A minha não fica no colo nem amarrada. Veja como está sujinha. Qual o nome do seu?
— Duque. Escolhi esse nome por ser nobre e forte, como ele é. Minha irmã queria que se chamasse Cássio. Não gostei. Acho brega demais colocar nome de gente em bicho. E você, o que acha?
— Hã? Eu? Eu… Eu acho ridículo!
— E a sua princesinha, como se chama?
Tentando, inutilmente, impedir que a cachorrinha saltitante sujasse a calça da loira, ele respondeu:
— Cinderela.
— Que nome lindo! Adorei! E o seu nome, qual é?
— Arnaldo.
— Prazer, Arnaldo. O meu é Gertrudes.
Ele me contou que, naquele momento, um veículo parou ao lado deles. Era a mãe dele que, abaixando o vidro, gritou:
— Meu filho! Você não tem vergonha? Olha o estado da Gertrudes! Desse jeito vão dizer que você anda passeando com uma porca!
A loira, indignada, saiu cuspindo desaforos. Ele não voltou mais à pracinha. Eu adquiri uma chihuahua e dei-lhe o nome de Duquesa. Desde então, passei a frequentar a pracinha. Quem sabe a loira aparece.
