O marido, acomodado no sofá para assistir à final do campeonato de futebol, acabara de abrir uma latinha de cerveja. O estádio estava lotado. Os times entravam em campo.
A mulher, atrasada para o compromisso em que seria apresentada ao diretor de uma multinacional, finalizava o banho. A amiga, secretária executiva da empresa, não titubeou em indicá-la quando soube da vaga de CEO. Assim que fechou o chuveiro, ela gritou:
— O vaso está entupido!
O marido, perfilado com a mão no peito, entoava o hino nacional; por isso, não respondeu. Ela tornou a gritar:
— Tá surdo? Vou repetir: o vaso tá entupido. En-tu-pi-do! Entendeu?
O árbitro deu início à partida. Irritado, o marido marchou na direção da mulher que estava no closet, enrolada na toalha. Ele se amansou e sussurrou:
— Eu já falei que toda vez que você grita você dá assunto para os fofoqueiros do prédio. E depois não aguenta os risinhos.
Ela fez cara de paisagem, apertou a ponta do nariz com o indicador e o polegar, e perguntou:
— Já inspecionou o vaso?
Ele não respondeu; deu meia-volta e foi avaliar o problema. Assim que abriu a porta, sentiu o hálito sepulcral.
— Nossa! Tem um gambá preso no vaso?
Ela se irritou.
— Até parece que o seu é cheiroso!
Ele fechou a porta e prometeu resolver a situação depois do jogo.
— Você é muito teimoso. Já cansei de falar que precisamos de um apartamento com dois banheiros, sendo uma suíte.
Ela continuou falando, mas ele não deu bola. Minutos depois o interfone tocou. Ela foi atender.
— Aqui é da portaria. Estou interfonando para avisá-la que a sua amiga está subindo com um homem.
Ela estarreceu. Aquilo não estava previsto. O combinado era de se encontrarem no restaurante central.
— Quem era?
— O porteiro avisando que a minha amiga e o diretor estão subindo. Mas fique tranquilo, não os deixarei entrar.
Decidida, ela caminhou até o elevador. Assim que a porta se abriu, a amiga saiu puxando o diretor pelas mãos e cochichou:
— Ele comeu algo que não lhe fez bem e precisa usar urgentemente o seu banheiro.