Estava virando rotina. Todos os finais de semana a sogra aparecia. Aparecia, não. Depois do trabalho, a esposa chegava com a ilustríssima:
— Mamãe vai passar este final de semana conosco.
A velha era quase inofensiva. Mas o “quase” fazia um estrago enorme. Da última vez, ela conseguiu arrancar os ganchos de rede da parede. Motivo? Excesso de peso. O balanço na rede gerou fissuras nas paredes e rachaduras no piso com a queda da vetusta.
A sogra também havia criado o hábito de incomodá-lo toda vez que ele se preparava para o banho. Infelizmente, só havia um banheiro naquela casa antiga, herança paterna; e como a velha tinha o selo de prioridade irrevogável, reinava no “lar doce lar”.
Era só ele aparecer com a toalha de banho para a “rainha” reclamar de dores na barriga. O trono era dela. Somente dela. Depois de excessivo tempo fazendo o “número 2”, ela saía gangorreando o corpo.
— Esqueceu-se de dar descarga outra vez! — ele reclamava, mas a esposa fingia não ouvir.
Cansado de aborrecimentos, ele decidiu agir. Era sexta-feira. Ele estava em férias. Sabendo que a sogra era alérgica a cães, pediu emprestados os Beagles de um amigo, prometendo devolvê-los na segunda-feira.
No meio da tarde, Romeu e Julieta chegaram encoleirados. O amigo deixou ração, deu-lhe instruções e foi embora. Seu primeiro ato foi retirar as coleiras para que os animaizinhos pudessem macular os cômodos com pelos e cheiros. Em seguida, esparramou-se na poltrona a fim de assistir a uma série de terror, e acabou cochilando.
Acordou com o barulhão. Levantou-se e viu o abajur despedaçado no chão. Os cãezinhos haviam puxado o fio de energia e derrubado o objeto. Enquanto recolhia os cacos, viu almofadas destroçadas. Precisava limpar e ordenar tudo antes de a esposa chegar.
Quando foi jogar os estragos no lixo, pisou num montículo. Só percebeu quando voltou à sala e viu o rastro. Havia cocô e xixi em outros cômodos também. Começou a se irritar, mas se conteve:
— Tudo isso vai valer a pena. A velha nunca mais vai querer pisar aqui.
Ele havia conseguido reorganizar tudo, recolocar as coleiras nos bagunceiros e prendê-los no quartinho dos fundos quando ouviu o carro da esposa entrando na garagem. Instantes depois, ela abriu a porta. Ele estava sentado, segurando uma lata de cerveja, com a cara mais inocente que conseguiu fazer.
— Cadê a minha sogrinha preferida?
A esposa se irritou.
— Preferida? Como assim? Você tem outra?
Ele se desculpou dizendo que foi um adjetivo mal empregado. Ela não ficou convencida. Ele tentou consertar.
— Amor, cadê a minha sogrinha… maravilhosa?
Ela, com a cara de “depois vamos ter uma conversinha séria”, berrou:
— Mamãe não virá hoje!
E, com o nariz fazendo pequenas contrações, perguntou:
— Que morrinha é essa?