Faz alguns meses que a garota chegou ao bairro para morar com os pais e o irmão mais novo. O rapaz, que morava na casa em frente, foi arrebatado pela beleza da ruivinha.
Se tivesse o número do telefone dela, enviaria mensagens. Se soubesse o seu nome, iria procurá-la nas redes sociais. Abordá-la? Ele era extremamente tímido. Resolveu, então, escrever-lhe uma carta.
Tentou criar um poema, mas não sabia versificar. Pensou em plagiar poetas famosos, mas não seria honesto. Sendo assim, escreveu palavras colhidas no coração, e foi à floricultura.
— Por favor, moça. Escoia pra eu as doze rosa mais bunitona que tivé aqui. Ah, e ponha pra eu esse bietinho junto.
A florista leu o papel e, heroicamente, contendo o riso, perguntou:
— Pra quem devemos entregar? Você não colocou o nome da pessoa.
— O nome dela num sei não. Mais ela tem cabelos ruivo e mora no dereço que escrivinhei nas costa do biete.
— Está bem. Daqui a pouco as flores estarão nas mãos dela.
Ele voltou para casa com o coração batendo mais forte do que bateria de escola de samba, e ficou à janela, de onde podia ver a casa da amada.
Meia hora depois a garota recebeu as flores e leu o bilhetinho: “garota linda. deisde coçe chego no bairro eu só pensso noçe”.
— Quem mandou as flores? – perguntou ao entregador – Não tem identificação.
— Não sei não, moça. Talvez saibam lá na floricultura.
— Está certo. Obrigada. Depois vejo isso.
No dia seguinte, o rapaz criou um pouco de coragem e atravessou a rua, com outro bilhete. Estava colocando-o na caixa de correspondência quando a garota apareceu. Ele gaguejou:
— Vi o velope quase caindo. Travessei a rua pra empurrar ele na caxinha.
Ele tentou ir embora, mas ela pediu que ficasse para ouvi-la ler o bilhete: “voçe já ta morando no meu corassão. to sonhando coçe até acordado. to criando corage pra mi revelá procê”.
A garota, confirmando a suspeita, disse:
— Outro bilhete do admirador secreto. Me ajuda a responder?
Ela entrou e voltou com papel e caneta.
— Por favor, escreva assim: Sinto-me lisonjeada com suas palavras, porém, existe uma distância gigantesca entre nós.
Ela parou de falar quando percebeu que ele não escrevia.
— O que foi?
Ele coçou a cabeça e perguntou:
— Lisonjada é com “z” e “g”?









