Berinjelina não suportava mais viver na roça. Para ela era um sacrifício acordar de madrugada, ordenhar, colher ovos, alimentar o porco, debulhar milho, moer grãos para coar o café, assar broas e bolos no fogão de lenha… Detestava lavar roupas no tanque, varrer a casa de terra batida, lavar banheiro, desempoeirar os móveis, alimentar o cão pulguento… Aquilo não era vida!
Joca Brito, seu marido, passava o dia inteiro capinando, plantando e colhendo para o sustento e futuro da família. Depois da escola, os filhos iam ajudá-lo. Só voltavam quando o sol começava a cochilar no horizonte e, assim que Joca Brito punha o pé dentro de casa, enfrentava as rabugices da mulher. Desnorteado por tantos nhenhenhéns diários desabafou com o compadre que morava na capital.
— Joca, você sabe que é mais do que um irmão pra mim. E tenho uma solução momentânea para você. Eu e minha mulher viajaremos para a Europa, onde comemoraremos nossas bodas de cristal. Vocês podem ficar em nossa casa até voltarmos. O que acha?
Joca Brito conversou com a mulher e as crianças.
— A casa tem piscina, sala de ginástica, sauna, orquidário… Mas tem uma condição: o compadre deu férias aos funcionários e nós seremos os responsáveis pela limpeza. Tudo bem?
Berinjelina disse apenas “só isso?” e, imediatamente, entrou em contato com o irmão para que cuidasse da roça na ausência deles.
Na semana seguinte o compadre viajou e os roceiros se deslocaram até a Vila Madalena com o caminhãozinho baú caindo aos pedaços, que penou para chegar ao destino.
— Não se esqueçam: vamos cuidar da casa como se fosse nossa – ordenou o pai.
Antes de concluir a frase, a criançada já estava na piscina. Berinjelina apressou os passos, esquadrinhou o imóvel e se esparramou na cama de lençóis importados. Joca Brito soltou os bichos.
Quando o compadre e a mulher voltaram, os roceiros estavam esperando na frente da casa. Joca Brito agradeceu:
— Muito obrigado. Tivemos dias maravilhosos. Berinjelina é outra mulher.
Assim que o caminhão baú dobrou a esquina, entraram para descansar. Porém… Ao avaliar o estado do imóvel, a mulher passou mal. A piscina estava imunda. O orquidário, destruído e cheio de excremento animal. A sala de ginástica com cheiro insuportável de titicas de galinha. Na cama do casal acontecia um festival de pulgas. A mulher surtou. Imediatamente o marido preparou a banheira com sais indianos e cobriu a água com pétalas de rosa.
— Relaxe, meu amor. Vou tirar as malas do carro e já volto para entrar na banheira com você.
Ela afundou o corpo na água e fechou os olhos para meditar. Assim que o marido abriu o porta-malas, o celular tocou.
— Compadre, estou voltando para pegar o Torresminho.
— Torresminho?
— O nosso porquinho.
Foi neste momento que a esposa ouviu o mergulho na banheira.