
O carteiro viu a menininha desconsolada, chorando muito. Pela grade do portão perguntou o motivo. Engolindo o choro ela disse:
— Meu au-au sumiu.
— Cadê sua mamãe?
— Foi na casa da vó.
— E o papai?
— Fazeno cocô.
— Hum… Daqui a pouco ele sai do banheiro e procura o cachorrinho pra você.
— Ele mora no banhero.
O carteiro achou engraçado.
— Seu pai mora no banheiro?
— Mamãe diz que sim.
— Bate lá na porta e fala pra ele que seu cachorrinho sumiu.
— Vo não. Tá fidido lá.
O carteiro tapou o riso com as mãos. Depois pegou um caderninho para fazer anotações.
— Como é seu cachorrinho?
— Destamanhinho aqui, ó. – Distanciou as mãozinhas em vinte centímetros e continuou:
— Marrão.
— Marrão? O que é marrão?
— Não é peto, nem banco. É marrão.
— Ah, sim. Marrom.
— Barriguinha banquinha.
— Certo. Qual o nome dele?
— Au-au.
— Pronto. Anotei tudinho. Se você prometer que não vai mais chorar, vou procurá-lo. Assim que o encontrar eu o trarei para você. Promete?
— Pometo. Moço, ele não tem puga.
— Está bem. Anotei. Agora preciso ir.
A mãe da menininha voltou no momento em que o carteiro se sentou na bicicleta. Disse ela sorridente:
— Correspondência para mim? Nada de contas, hein, por favor!
— Não senhora. Não tem nada. Eu só parei porque sua filha estava chorando muito. Fiquei preocupado.
Ela fitou a filha.
— Chorando? Cadê seu pai?
— Fazeno cocô.
— Ainda? Desse jeito, logo, logo vai ter hemorroidas. Por que você estava chorando?
Antes de a filha responder a mãe abriu a bolsa de onde tirou o cachorrinho de pelúcia. A menininha saltitou.
— Meu au-au. Mamãe achou meu au-au.
Depois de cobrir de beijos a mãe e o cachorrinho, a menininha entrou, ignorando a poluição.
A mulher agradeceu ao carteiro e explicou:
— Fui levar o au-au dela para minha mãe costurar. Estavam saindo espumas dele. Se eu soubesse pegar numa agulha…