O velho jacarandá-mimoso estava com as raízes apodrecidas, ameaçando cair a qualquer momento. Com as chuvas intensas ocorridas nos últimos dias, ficou mais evidente a fragilidade da árvore que não produzia folhas e flores há muito tempo. Assim que soube que na manhã do dia seguinte iriam remover a árvore de sua calçada, ela ficou furiosa.
— Isso é coisa daquela vizinha, a mulher do poderoso da secretaria. Ela vivia reclamando das florinhas espalhadas pela calçada. Coisa mais linda do mundo! Para ela era sujeira. Para mim, um tapete maravilhoso. Agora, só porque meu jacarandá está num estágio de repouso, está querendo arrancá-lo? Não vai, não! Nem por cima do meu cadáver!
No dia seguinte, o caminhão-munck estacionou com seis homens, serras elétricas e outros apetrechos.
— É essa árvore, chefe?
— Essa mesma.
Enquanto isolavam o local, um dos homens observou o volume estranho na árvore.
— O que é aquilo?
Aquilo era a mulher de dez arrobas que se considerava proprietária do jacarandá, sentada num dos galhos.
— Desce daí, dona.
— Daqui não saio. Daqui ninguém me tira.
A vizinhança se aglomerou.
— Desce daí, velha maluca!
— Velha maluca é a senhora sua mãe. Só descerei daqui com um documento assinado e registrado em cartório, garantindo que não tocarão um dedo no meu jacarandá.
O responsável pela demanda ligou para o secretário, explicou a situação e não gostou do que ouviu.
— O PROBLEMA É SEU. CUMPRA A ORDEM, SENÃO…
Encerrada a ligação, o encarregado decidiu:
— Vamos começar cortando os galhos mais altos. Talvez assim ela resolva descer.
A vizinha, que com razão pleiteou a remoção da árvore, colocou uma cadeira na calçada do outro lado da rua para acompanhar o desfecho. O impasse continuou.
— Desça daí, senhora, senão vamos chamar a polícia.
— Pois chame. Daqui não saio.
— Mas senhora…
O encarregado perdeu a paciência e deu início à operação. Para impedir os cortes, a mulher se deslocava de um galho para o outro. Tanto peso pra lá e pra cá abalou as raízes do jacarandá-mimoso. A árvore não resistiu, tombou. A mulher se esborrachou no chão e foi socorrida pelo encarregado que, após vê-la incólume, perguntou:
— Poderia nos ajudar a remover outras árvores de risco?