Em 18 de outubro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu a manipulação, comercialização, propaganda e uso dos implantes hormonais manipulados, popularmente conhecidos como “chips da beleza”.
Associações do setor de saúde informaram que os implantes vinham sendo utilizados de forma indevida. De acordo com a Anvisa, a medida foi tomada após denúncias de entidades médicas, que expressaram preocupações com o uso inadequado desses dispositivos.
Noticiários, em dezembro do ano passado, já haviam reportado que sete entidades médicas enviaram uma carta à Anvisa, solicitando providências imediatas. As instituições apontaram um aumento significativo no atendimento de pacientes com problemas após o uso dos implantes que combinam vários hormônios.
A Anvisa emitiu um alerta sobre os riscos: “Implantes hormonais para fins estéticos e de desempenho podem ser prejudiciais à saúde, além de não haver comprovação de segurança e eficácia para essas finalidades.” A determinação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) no mesmo dia.
O que são os “chips da beleza” e quais são seus perigos?
O chip da beleza é uma terapia hormonal voltada para fins estéticos, embora também seja utilizado para tratar sintomas do climatério e menopausa. O Conselho Federal de Medicina (CFM) já havia proibido esses implantes devido aos riscos envolvidos.
Esses implantes são aplicados de forma subcutânea e liberam hormônios lentamente no organismo. O mais comum entre eles contém gestrinona, um hormônio sintético de progesterona, que provoca aumento nos níveis de testosterona.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) não recomenda o uso desses implantes, seja para terapia hormonal na menopausa ou anticoncepção, devido à falta de dados sobre segurança, especialmente a longo prazo.
Efeitos colaterais
Entre os principais efeitos adversos relatados pela Anvisa estão:
Elevação do colesterol e triglicerídeos no sangue;
Hipertensão arterial;
Acidente vascular cerebral (AVC);
Arritmia cardíaca;
Crescimento excessivo de pelos em mulheres;
Queda de cabelo;
Acne;
Alteração na voz;
Insônia;
Agitação.
Exemplo de uso indevido do implante hormonal
Em dezembro de 2023, uma jovem de cerca de 20 anos, em São Paulo, foi internada em estado grave após desenvolver edema cerebral 24 horas depois de receber dois implantes contendo ciproterona, gestrinona, testosterona e ocitocina.
A ocitocina, conhecida como “hormônio do amor”, é produzida pela hipófise e tem efeito antidiurético, ajudando a regular o equilíbrio de água e sódio no organismo. No entanto, níveis elevados desse hormônio podem levar à retenção de água e à diminuição de sódio no sangue, resultando em intoxicação por água.
Apesar de ser incluída nos implantes com a promessa de auxiliar no emagrecimento, não existem evidências científicas que comprovem sua eficácia no tratamento da obesidade, ansiedade ou falta de libido.
As entidades médicas reforçam que esses implantes se popularizaram sem respaldo ético ou científico. Além disso, muitos contêm esteroides anabolizantes e são promovidos como parte de estratégias para alcançar o “corpo perfeito” e um estilo de vida saudável.