Ana e Maria moravam no mesmo bairro e na mesma rua. Eram amigas do tipo unha e carne. Estudavam na mesma escola desde a primeira serie. Aprenderam a andar de bicicleta juntas e gostavam de vestir roupas iguais. Em resumo: eram irmãs de pais diferentes.
Maria tinha dificuldades com a Matemática. Ana era uma calculadora ambulante; entretanto, nem com reza brava conseguia assimilar as regras gramaticais. Por sua vez, Maria era expert em Língua Portuguesa. Por isso, trocavam conhecimento.
A amizade entre as duas era tão sólida que em todos os finais de tarde se reuniam para fazer planos, ora no quarto de Ana, ora no de Maria. Numa dessas reuniões prometeram que, quando se casassem, e se fossem mães de meninas, lhes dariam os nomes de Ana Maria e Mariana. Outro acordo foi de que ambas começariam a namorar no mesmo dia.
Certo dia, ao saírem da escola, Ana revelou:
— Estou gostando do Zeca. Ele mandou um bilhetinho com versos de amor pra mim.
— O filho do borracheiro? Aquele de olhos azuis?
— Ele mesmo.
— Hum… Espero que você não tenha se esquecido do nosso pacto…
— Não esqueci.
— Acho bom mesmo – resmungou Maria.
— Você está irritada, amiga? Com certeza o Zeca tem um amigo que quererá namorar você.
Maria deixou bem claro que não queria nenhum amigo do Zeca, pois um relacionamento naquele período de provas poderia ser fatal; afinal, precisava se recuperar de algumas notas vermelhas.
Dias depois, Ana apareceu na escola com os olhos vermelhos-rios-de-lágrimas.
— Por que você está assim?
— O Zeca mandou me dizer que não quer me ver nem pintada de ouro.
— Por quê?
— A irmã dele me contou que enfiaram um bilhete anônimo com várias mentiras a meu respeito debaixo da porta da casa deles.
Maria abraçou a amiga e disse:
— Fica assim não. Esse moleque não merece você. Vamos tomar um sorvete. Eu pago.
Ah, se Ana soubesse que Maria também era apaixonada pelo Zeca…









