
Médico, mestre e doutor pela USP, Magister ad Honorem da
Universidade de Bolonha, visitante das universidades de Bonn,
Munique, Colônia e Berlim. Professor convidado da Universidade de
Paris V (Sorbonne)
Os estudiosos dos temas AGRESSIVIDADE e VIOLÊNCIA, especialmente os filósofos e sociólogos, tentam conceituá-los de maneira clara para estabelecer as diferenças entre os mesmos. Quando se aborda agressividade, penetra-se numa dimensão biológica, corpora, genética, enquanto ao se falar de violência, penetra-se na dimensão exclusivamente humana que nos conduz as aspectos da linguagem , da cultura e aos símbolos marcantes da sociedade. E muitos se perguntam: agressividade e violência constituem parte do humano ou representam uma construção histórica e social?
Tudo indica que a agressividade faz parte de nossa herança biológica, tendo possivelmente como função a sobrevivência das espécies como nos explica o cientista austríaco Konrad Lorenz (1903-1989), especialista em comportamento (etologia) ao defini-la como conduta inata a espécies animais.
A violência, é produto humano, intencional, que, no mais das vezes faz surgir a exploração do homem, origina desigualdades, provocando irreparáveis danos físicos e psicológicos, em especial, sendo elemento causal de males sociais.
O filósofo e sociólogo francês René Girard (1923-2015) na sua obra “A Violência e o Sagrado”, publicado pela Editora Paz e Terra (2008) sustenta a hipótese de que o desejo humano ser responsável pela violência, no processo de socialização humana. A violência apresenta-se sob diversas formas: direta contra a pessoa (interpessoal), indireta, contra bens e patrimônios individuais e públicos (aí se incluem furtos e vandalismos), implícita ou velada (negligência, abandono, constrangimentos psicológicos) e explícita em que são identificados autores e vítimas.
No que concerne ao tipo, normalmente são classificadas como física, sexual, verbal, psicológica e fatal.
Uma das violências mais estudadas no nosso século é o fenômeno denominado “bulling”, sinônimo da violência de todos os tipos, imposta por agressores cruéis às vítimas em que aparecem condutas repetitivas, violentas, constantes que fazem surgir fortes desequilíbrios emocionais (em todas as partes envolvidas), principalmente às vítimas, muitas delas, intensamente fragilizadas que chegam a cometer o suicídio. Esse acontecimento que deve ser combatido não aparece só no meio escolar (onde é muito estudado), ocorre no interior da família, no trabalho e até nas relações amorosas.
Para todos nós que temos a obrigação de nos preocuparmos com esse assunto deveras importante, jamais podemos perder o norte conceitual. Para a Psicologia a violência é “Um desequilíbrio psíquico que se traduz pela hostilidade constante contra terceiros e si próprio”; para a Psiquiatria é “Um movimento contínuo e persistente que viola o direito das vítimas, além de ser um ato de autoagressão que pode colocar em risco a vida do próprio sujeito” razão pela qual a enquadra dentro do campo dos transtornos mentais. A Psicanálise a trata como “instinto básico que faz parte da natureza humana”, estudada pelo psicanalista suíço Sigmund Freud (1856-1939) em livros como “Além do Princípio do Prazer” e o “Mal-estar na Civilização” (estudando as denominadas pulsões de morte (Tanatos) e de vida (Eros).
O certo é que vivemos tempos de VIOLÊNCIA, como nunca presenciamos na História Humana, cujo expressão maior é o terrorismo, sem esquecer o narcotráfico, o tráfico humano, as guerras étnicas e religiosas e os maus tratos domésticos. O ódio presente em qualquer tipo de violência é característico da nossa espécie,, como nos apontam os célebres psicanalistas franceses Jacques Derrida e Jacques Lacan. Será que existe um antídoto para esse mal?
Cremos que só o AMOR AO PRÓXIMO como nos ensinou o Nazareno, amor esse que deve ser manifestado nas nossas ações de compaixão, de respeito e de ternura para com o sofrimento dos que padecem no abismo social marcado pela pobreza que humilha e pela miséria que fere a dignidade do nosso semelhante.
Se, é vital termos a consciência do Eu, mais ainda é jamais negar a alteridade do outro, em atitudes de coragem. Quem sabe, com a criatividade de criança reinventemos um mundo de paz!