Depois que o marido foi sepultado, a viúva trintona decidiu mudar de cidade. Embora fosse natural da capital paulista, não se sentia confortável na multidão; por isso, resolveu trocar a perturbação da metrópole pela tranquilidade interiorana: há dois meses mora em Tremembé.
Desde que chegou à cidade, olhares masculinos se derramaram desejosos sobre ela. Por outro lado, quando passeia com o filho serelepe de três anos pela Praça da Basílica, as tremembeenses comentam:
— Eu aposto que aquele glúteo arredondado é puro enchimento.
— Não duvido. E a quantidade de silicone? Que absurdo!
— E os olhos azuis? É óbvio que são lentes xing ling.
Apesar das maledicências, a viúva era autêntica.
Na cidade, havia um rapaz, o Bigodinho, cuja beleza física era discutível: bigodinho ralo, voz desafinada, óculos com lentes fundo de garrafa. Apesar disso, com sua educação refinada, conquistava muitas pretendentes. Entretanto, ele prometia entregar a sua castidade somente àquela que fosse a escolhida pelo seu coração.
O homem mais bonito da cidade, que morava sozinho, tão logo a viúva se estabeleceu, foi o primeiro a abordá-la. Deu-lhe boas-vindas e se comprometeu em ajudá-la no que precisasse. A partir de então, começou a frequentar assiduamente a Praça da Basílica onde, toda vez que via a viúva, pensava: “Essa não é pro bico do Bigode”.
Certo fim de tarde, estava ele assistindo à final do campeonato de futebol quando a campainha tocou. Era ela, com o filho.
— Boa tarde. Tudo bem com você? Estou precisando de um favorzinho. Se não for atrapalhar.
— Me atrapalhar? Jamais. Pode pedir o que você quiser.
Ela ouviu o som do televisor.
— E o seu futebol?
— Futebol? Estou assistindo por assistir. Nem gosto.
— Tem certeza?
Ele suspirou profundamente, hipnotizado pelo olhar dela.
— Então… Eu preciso sair e não posso levar o meu filho. Você pode ficar com ele até eu voltar? Não vou me demorar. Prometo.
O menino, sem esperar pela resposta, entrou como um furacão.
— Pode ir tranquila. Eu cuido dele.
Ela agradeceu e foi embora. Ele tentou de todas as maneiras fazer o menino se aquietar para que pudesse assistir ao jogo. Mas o menino não parava de tagarelar. “Tio, o que é isso?” “Tio, o que é aquilo?”.
Era final de campeonato. O empate levaria à prorrogação. No último lance do jogo, devido ao erro crasso do goleiro, aconteceu o gol e o time dele perdeu o campeonato. Além da derrota, teria que aturar o menino até a viúva voltar. Mas, valeria a pena. Assim que ela voltasse, a pediria em namoro.
Quatro horas depois, quando o menino já dormia no sofá, ela apareceu… de mãos dadas com o Bigodinho.