
Um dos valores essenciais para a construção de uma sociedade justa e inclusiva é, indubitavelmente, a tolerância, que se refere à capacidade de aceitar e respeitar as diferentes crenças, práticas e comportamentos, embora muitas vezes não se concorde com eles. Constitui uma virtude que contribui imensamente para substituir uma cultura de conflitos por uma cultura de paz. Ao longo da história, vários pensadores se dedicaram a esse apaixonante assunto. Platão, filósofo da Grécia Antiga, afirmou que a tolerância, essa fantástica capacidade de reconhecer e aceitar o diferente, é o mais alto nível de educação. Daí o dever de encararmos e combatermos a intolerância dos que não suportam a pluralidade de ideias e crenças, como se a verdade reinasse no território pertencente a uma pessoa ou grupo social, ou não existisse, além das verdades subjetivas, a verdade objetiva. Esses intolerantes que proliferam especialmente nos tempos modernos usam de todos os meios — sobretudo a violência — para convencer o mundo do que é correto na míope visão deles, desprezando o inestimável valor da argumentação, visto que estão acorrentados à sua insegurança, concepções e caprichos. Devem ser combatidos em qualquer lugar que estejam, em nome do nosso progresso em todos os sentidos.
Já em plena era do Iluminismo, encontramos dois filósofos que refletiram profundamente sobre esse assunto: John Locke e Voltaire. Locke, filósofo e médico inglês, afirmou que, se não há um só caminho para a salvação, ou melhor, uma verdade única, é nossa missão tolerar e respeitar as diferenças, sendo a tolerância a abstenção do uso de forças. Aceitar é ser tolerante, configura o respeito pelo outro, atitude que faz bem não só aos indivíduos como à sociedade. Saber ouvir e pensar antes de agir é fundamental. Voltaire, filósofo francês, forte defensor da liberdade de expressão, ensinou que a tolerância poderia fazer do homem um ser mais compreensivo no eterno combate ao erro. Para ele, essa virtude é um dever de ordem ética e uma necessidade política e jurídica, constituindo-se na harmonia da diferença e sendo também um dever moral. Sua famosa frase, “Posso não concordar com o que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”, sintetiza a essência da tolerância como compromisso do cidadão com a liberdade de expressão e com a luta incessante contra a censura e o autoritarismo.
Após essas reflexões, surge a pergunta: o que seria viver bem? Certamente, seria ver com os olhos da compaixão, falar a linguagem do amor e ouvir com os ouvidos da tolerância, como aconselha Rumi, poeta e filósofo persa, para quem a vida é uma jornada para a união com o Divino, guiada pela força motriz do amor que nos impulsiona na busca por Deus, tolerante e clemente, que deseja tão somente o progresso para todos nós em nossa jornada terrena, por mais penosa que ela seja.