
Adejava no ar uma andorinha
que os insetos voláteis perseguia.
Ora subia mais, ora descia,
bafejada das auras da tardinha.
Tanto voou que foi-se uma peninha,
que em lugar de baixar, sempre subia,
e para reavê-la se esvaía,
pois a pena, subindo, não lhe vinha.
Vendo-a enfim, se perder na infinidade,
a avezinha desceu e, soluçando,
carpiu no ninho as mágoas da saudade.
Assim, como a andorinha, fiz também,
quando vi meu amor, asas ruflando,
para sempre de mim sumir-se além.
Cássio Rezende, Jornal Sete Dias (extinto), 15 de dezembro de 1968