Este é um tema que, por muito tempo, ficou à margem das discussões sobre a prática profissional. Afinal, enquanto o foco sempre esteve na precisão, na ética e na rapidez, pouco se falava sobre o impacto psicológico de cobrir tragédias, conflitos ou situações de sofrimento humano. Porém, nas últimas décadas, com a intensificação do noticiário violento e a exposição contínua a eventos traumáticos, tornou-se impossível ignorar o peso emocional que recai sobre quem narra a dor alheia.
Jornalistas convivem diariamente com histórias que a maioria das pessoas só encontra por acaso. São repórteres que passam horas em hospitais, periferias, zonas de guerra, delegacias ou tribunais, absorvendo relatos que deixam marcas. Parece que nos últimos dias tantos casos de feminicídios atingem todos nós jornalistas – mulheres e homens – com tristeza ou brutalidade.
Apesar disso, ainda persiste a ideia de que o jornalista deve ser imune ao sofrimento, como se a sensibilidade fosse um obstáculo à objetividade. O contrário é verdadeiro: reconhecer emoções, limites e vulnerabilidades é parte essencial de um jornalismo mais humano e responsável. Redações que promovem acolhimento, supervisão e espaços de escuta tendem a produzir profissionais mais saudáveis e, consequentemente, melhores histórias.
Cuidar de quem informa é cuidar da própria democracia. Trazer esse debate para o centro da profissão é um passo fundamental para um jornalismo que não apenas relata o mundo, mas também se preocupa com aqueles que o constroem todos os dias.









