
e doutor pela USP, professor
universitário, Magister ad
Honorem da Universidade
de Bolonha, e Professor
Visitante das Universidades
de Bonn, Munique, Colônia e Berlim
(Alemanha). Professor Convidado da
Universidade de Paris V (Sorbonne)
O grande poeta Fernando Pessoa (1888-1930), um dos mais importantes poetas da nossa língua e figura central do Modernismo português, quando se expressa no seu heterônimo Ricardo Reis nos diz: “Cumpramos o que somos, nada mais nos é dado”. Nesse mesmo sentido caminha o filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900, filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor), quando nos assevera: “Torna-te quem tu és”.
Ele não quis afirmar “Conhece-te a ti mesmo”, como está escrito no oráculo de Delfos na Grécia. Aqui, o filósofo nos convida a empreender uma análise de forças oriundas das nossas vivências, na tentativa de superação, esquecendo as sendas do negativismo. Representa jogar-se no mundo, vivendo o que é a existência, com vontade crescente de querer poder ser cada vez mais.
E esse “poder ser” significa que devemos tomar propriedade das forças que convergem até nós, no cultivo cuidadoso das experiências, na ânsia incessante de compreender o que ocorre conosco, fazer crescê-las e estar atento ao nosso próprio estado.
Conhecer a nós mesmos, para o filósofo teuto, é praticar constante exercício de autocuidado, ingerir os medicamentos do ânimo ao enfrentar a decadência que os fatos, ao longo dos anos, nos apresentam. É almejar aquilo que fomos e que somos, o que significa um retorno feliz e abençoado, sem nunca nos ocultarmos nas sombras, seja de quem for, mas afirmarmo-nos nas nossas crenças e ações, elevando a toda hora o nosso grau de afirmação.
Reflitamos que, muitas vezes, somos forças caóticas perdidas no nosso universo existencial, desertos carentes de afetos, esquecendo de alargarmos ou aumentarmos o número de horizontes, de povoar esses desertos e de expressar a verdade.
Na sua obra Ecce Homo, o referido filósofo nos expressa: “Um homem que vingou faz bem aos nossos sentidos, só encontra sabor no que é salutar, inventa meios de cura para as injúrias, e utiliza acasos ruins em seu proveito”.
Dessa maneira, apreciamos um convite a deixarmos de nos negar, de iludirmos a nós mesmos e de nos ocultarmos, de sermos autênticos e sinceros conosco. Deixamos de lutar contra forças graves e destruidoras, e de saber que podemos fazer mais, e de ter consciência de que as mesmas forças que nos constituem e nos impelem em todas as direções têm que ser enfrentadas.
Segundo Nietzsche, a nosso ver, é nossa missão buscar um modo de vida favorável ao incremento de nossas forças vitais. Abaixar a cabeça é afirmar a negação, quando necessitamos de poder de transformação.
Assim caminhando, afirmamos a nós mesmos que essas forças constituem forças ativas que nos são propiciadas pelo Universo.
Jamais trilhar as veredas da negação, porque cada negação é uma viagem em direção ao pântano traiçoeiro do ressentimento, onde residem angústias que nunca terminam.
Cumpre-nos voltar o olhar para as trilhas percorridas e ver as coisas boas e edificantes que nós denominamos aprendizado. Para superar os tais ressentimentos, faz-se mister deixar de apontar o dedo para nós e para o outro em busca inútil de culpados.
Enfim, a busca de nós mesmos reside no ato de nos tornarmos guerreiros no processo do viver, criar novos valores, aprendermos a dirigir o nosso barco nas tempestades ameaçadoras, tendo como bússola as nossas vivências, para compreendermos o que somos. Com certeza, tal gesto nos mostrará infinitas possibilidades e iluminará os nossos caminhos.