O relógio da redação vive de taquicardia.
— Precisamos falar disso.
— Agora é hora de divulgar aquilo.
— Essa é importante.
— Megaimportante.
— Ultraimportante.
Entre um “importante” e outro, aprendo aumentativos como quem coleciona pressas. Eu entendo: cada bolha tem seu assunto do dia — às vezes, a bolha cabe uma pessoa só. Mesmo assim, vira urgência. Só que pauta não é “ouvir, escrever e publicar”. Antes do botão, tem degrau: analisar, entender, verificar, ligar de novo, cruzar versões, cortar excesso, escolher verbo. Publicar dá trabalho de obra.
No fim do expediente, olho as incontáveis letras e o corpo reclama como se tivesse erguido um prédio — já prevendo o pós-obra: “faltou isso”, “sobrou aquilo”. Às vezes, o anúncio é para uma plateia de uma pessoa. Muitas vezes, nem um “obrigado”.
No dia seguinte, visto os óculos de leitor e releio sob outra luz. Aqui pedia um dado, ali pedia respiro, acolá faltou contexto. O texto anda, mas eu ainda enxergo as costuras. E tudo volta para a bancada: afinar o ritmo, aparar bordas, deixar claro o que estava só implícito.
Ainda assim, volto. Porque, de vez em quando, essa uma pessoa era exatamente quem precisava saber — e isso basta. Porque quando a pauta fica de pé, o relógio sossega por um segundo, como se o dia tirasse um fiapo de silêncio para respirar. Depois, claro, outra notificação pisca. E a gente aprende mais um jeito de dizer “importante” enquanto tenta escrever de modo que importe.









