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A marca da serpente

Estavam juntos há pouco mais de um ano. Ela havia fugido da casa dos pais aos dezessete anos de idade para morar com o namorado de vinte, numa cidade vizinha. O relacionamento foi saboroso até o dia em que ela revelou:

— Deu positivo, amor. Você vai ser papai.

A surpresa o aturdiu. Somente depois de alguns segundos ele se recompôs e pediu que ela repetisse a piada.

— Não é piada. Estou grávida! — reafirmou mostrando, alegremente, o teste de farmácia.

Ele explodiu. Gritou que não queria o filho porque o que ganhava mal dava para sustentar os dois; que a gravidez era culpa dela, só dela. Ela respondeu que sozinha não engravidaria. Ele a mandou calar a boca.

Com o passar dos meses, ele passou a maltratá-la com agressões físicas e verbais. Foi uma gravidez difícil.

— Se essa criança nascer vai ter o sinal do mal.

Ele queria levá-la a uma clínica para expulsar o feto. Ela não quis. Ele se entregou à bebida. No dia do nascimento do filho, ele estava em coma alcoólico.

O parto foi difícil, mas bem-sucedido. Quando a enfermeira mostrou o bebê, ela soltou um grito: na testa do menino havia uma mancha em formato de serpente.

Assim que recebeu alta, ela abandonou o bebê num matagal, reuniu pertences e voltou para a casa dos pais.

Quarenta anos depois, o namorado foi procurá-la. Estava um farrapo de gente. Ajoelhado aos pés dela, contou que estava com um problema grave no coração.

— Não quero morrer sem pedir perdão.

Antes que ela dissesse qualquer coisa, ele desmaiou. Ela chamou a ambulância. No hospital, ficou sabendo que só um transplante o salvaria. Como aquele não dispunha de recursos, transferiram-no para a capital. Ela não quis ir com ele. Tinha medo de vê-lo morrer.

Por sorte, encontraram um coração compatível, e o transplante foi bem-sucedido. Duas semanas depois, ela foi visitá-lo, alegando que não poderia ficar por muito tempo.

— Obrigado por ter vindo. Você me salvou. Peço apenas que não vá embora sem antes conhecer o anjo que colocou o novo coração em meu peito.

Naquele instante, o cirurgião abriu a porta do quarto.

— Aí está ele.

Ao visualizar o médico, ela caiu em prantos. O cirurgião tinha a marca da serpente na testa.

Proseando

Maurício Cavalheiro
Maurício Cavalheiro
Maurício Cavalheiro é um escritor e trovador brasileiro, natural de Pindamonhangaba, São Paulo. Ele é conhecido por suas obras na forma de trova e também por sua coluna "Proseando" no jornal Tribuna do Norte. Além disso, é membro da Academia Pindamonhangabense de Letras, da União Brasileira de Trovadores (UBT) e da Academia Brasileira de Sonetistas (ABRASSO).
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