
ocupa a cadeira nº 30
da APL – Academia
Pindamonhangabense
de Letra
Ele chegou com a galinha debaixo do braço. Uma galinha ruiva e bojuda. A esposa levou um susto.
— O que é isso?
Ele levantou a ave como se fosse um troféu.
— Uma galinha!
— Isso eu sei. É para o almoço de domingo?
Ele protegeu a ave contra o peito.
— Tá louca? Esta não é uma simples galinha; esta é descendente daquela que botava ovos de ouro.
— Não me diga! É mesmo? Aquela da historinha infantil?
— Você não acredita, né? Quero ver a sua cara quando ela botar o primeiro ovo de ouro.
A casa era minúscula, sem quintal. A mulher tentou fazê-lo devolver o bicho. Ele recusou. Ela sugeriu, então, que comprasse uma gaiola. Ele refutou dizendo que poderia estressá-la. Iria criá-la solta.
Na primeira noite não dormiram. A galinha ficou ciscando e cacarejando durante toda a madrugada.
Na noite seguinte ele colocou a galinha entre ele e a esposa.
— Ficou louco? Se essa galinha dormir em nossa cama eu arrumo as malas e volto pra casa da minha mãe.
Ele foi dormir no sofá… com a galinha.
Os dias passavam. A única atividade da galinha era excrementar na casa toda. A mulher, cansada de limpar a sujeira, explodiu:
— A partir de hoje, a limpeza é por sua conta!
— Mas, eu trabalho…
— E eu não? Meus afazeres domésticos não são trabalho? Se vira! Eu não recolho mais nenhum cocô.
Se ele ganhasse bem, contrataria uma limpadora de titicas. Como seu salário era minguado, não teve jeito. Começou a realizar a limpeza três vezes ao dia: pela manhã, antes de sair para o trabalho; no horário do almoço; e quando voltava a casa, ao fim do expediente.
— Já tem um mês que a galinha está aqui fazendo porcarias. Seja sensato e dê um sumiço nela.
Ele não disse nada. Decepcionado, continuou retirando a sujeira. Num dos montículos no quarto percebeu um brilho diferente. Com a ponta de uma caneta, investigou.
— Mulher! ‒ Gritou, eufórico ‒ Ela botou um anel de ouro.
Ele lavou o objeto na pia da suíte e, triunfante, deu a ela.
— Esse é o anel que mamãe me deu. Essa galinha deve o ter engolido e desengolido pela cloaca.
Ele se desesperançou.
Na hora do almoço do dia seguinte, ele encontrou a casa limpa. A mulher pediu que se sentasse à mesa; iria servi-lo.
— Hoje saborearemos uma suculenta franga assada.