Fazendo parte de minhas pesquisas para a elaboração da biografia do maestro Perfetti, naquela manhã entrei na igreja de Santa Cecília, na cidade de São Paulo. Curiosa, abri a porta que ficava a esquerda de quem entra. Em formato de caracol, aquela escada estava ali desde 1901; do outro lado, outra porta, um elevador, porém, desativado se encontrava. Visitaria uma peça muito importante que fez parte da vida do maestro.
Atualmente, normalmente quase ninguém aparece por lá, a não ser para limpeza quinzenal ou para acertar o relógio do sino. Cheguei sozinha, alcancei as duas primeiras voltas da escada, desisti; retornei e saí. Percebi que estava apreensiva, afinal de contas tudo ali, inclusive a escada, era desconhecida para mim, além do que estava uma penumbra; a lâmpada queimou faz um mês e não foi trocada. Apenas uma luz tênue entrava pelo vitral empoeirado, iluminando um pouco. Pensei, raramente vem alguém tocar aqui.
Voltei acompanhada do sr. Orlando, o sacristão, que conhece muito bem o local, afinal trabalha ali há mais de vinte anos. Seguindo o sr. Orlando, fui galgando os primeiros lances daquela escada centenária. Em silêncio, compenetrada, emocionada e ao mesmo tempo atenta, seguia observando tudo, fui subindo cada degrau com cuidado. Em alguns momentos, a escada rangia, o que tornava o ambiente mais misterioso para mim.
Cheguei ao primeiro patamar, sr. Orlando abriu a porta que levava ao órgão. Parei na entrada e ao vislumbrar o “sr. Órgão de tubos”, meus olhos ficaram marejados. Ali estava bem na minha frente, imponente, majestoso, respeitador, único e sonoro, aquele que foi comandado muitas vezes pelo maestro Perfetti.
Tomei fôlego, coragem e sentei-me no banco onde sentaram os grandes músicos organistas. Fiquei ali por alguns segundos imóvel, perplexa, olhando para o teclado e para a nave central da igreja. Me virei e, admirada, olhei para as centenas de tubos do magnífico órgão.
Tocando suavemente nas teclas e nos pedais daquele instrumento centenário, me senti voltar no tempo e revivi os momentos em que o maestro Perfetti ali sentado tocava músicas celestiais e marchas nupciais que encantavam a todos.
A visita estava terminando, após tirar mais algumas fotos, me despedi emocionada daquele órgão e pensei: quantas vezes o maestro teria tocado ali, subido e descido aquela escada? Fui descendo a escada em caracol e imaginando a marcha nupcial que o maestro escreveu especialmente para o casamento de meus pais, sendo tocada. Quando estava descendo, de repente o sino começou a badalar, fui tomada de susto e emoção. Parecia que tudo vibrava a cada toque do sino. Foi uma visita emocionante que jamais esquecerei.