
Não me lembro ao certo de quando a pressa tomou conta de tudo, da comida que comemos sem mastigar direito, do cafezinho que bebemos de pé, das conversas em que pulamos as pausas, a correria do dia a dia. Mas sei que toda vez que penso na cerimônia do chá, tenho a sensação ao contrário, um convite a desacelerar.
Não estou falando sobre aquele chá que fazemos quando estamos gripados ou daquele saquinho que é jogado na caneca com água fervente às três horas da tarde de um dia frio. Me refiro à verdadeira cerimônia do chá. Aquela dos japoneses que, com gestos lentos, quase coreografados, como que cada movimento fosse uma vírgula no silêncio.
Nesta hora, a água quente não é somente uma água quente. É quase um poema. A temperatura é muito importante. O som da água caindo delicadamente na “tigela” é quase musical. O recipiente não é qualquer um, é escolhido a dedo especialmente feito para esse momento. O jeito de segurar a tigela é semelhante a um abraço, uma reverência.
Tudo feito com muita delicadeza, que não parece se encaixar na vida corrida.
O interessante é que o chá não é o protagonista, é o pretexto. O chá “segura” a cena, é coadjuvante. Ele garante que tudo aconteça, não rouba a cena. A estrela da cerimônia é o momento.
Na cerimônia do chá, o comum se torna arte. Então penso, que a vida ficaria mais bonita se soubéssemos transformar o comum em arte também. Assim como se o café da manhã fosse um rito, um abraço com gestos delicados, lentos e estudados. O olhar demorasse mais um segundo no rosto de quem a gente ama.
A cerimônia do chá nos ensina uma coisa bem simples, mas muito difícil: é preciso estarmos inteiros nas coisas pequenas. Pois, é nelas, que a vida mora.
Observe o desabrochar de uma flor, no voo alegre de uma borboleta e no delicado beija-flor.
Enquanto estou escrevendo essa crônica, a chaleira apita na cozinha. Levanto e penso: acho que hoje vou preparar aquele chá devagar, desacelerar e curtir o momento. Vamos ver o que acontece.